Depois de um avanço acima das estimativas no mês passado, os economistas agora divergem em relação ao comportamento do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) este mês. A dúvida está relacionada ao comportamento dos alimentos. Em julho, o índice subiu 0,43%, resultado superior à média das projeções de 11 instituições consultadas pelo Valor Data, que apontava elevação de 0,39% no período. Em junho, o IPCA havia subido 0,08%.
A aceleração do índice foi puxado pelos alimentos, que ficaram 0,91% mais caros, refletindo o impacto dos problemas climáticos sobre os produtos in natura. Com reajuste de 50,33%, o tomate despontou como a maior alta do IPCA no mês passado, que teve aceleração em sete dos nove grupos de despesas analisados
Marco Caruso, do Banco Pine, diz que a recomposição da oferta de produtos in natura fará a inflação de alimentos ceder. Projetando menor pressão nos alimentos e em despesas pessoais, além de deflação em vestuário, o economista estima alta mais modesta para o IPCA em agosto, de 0,35%.
Pedro Paulo Silveira, da TOV Corretora, vê outro cenário. Para ele, o IPCA vai se acelerar neste mês, com a alta chegando a 0,45%, puxada pelos alimentos. "Estamos diante de um grande choque de produtos agrícolas, com cerca de 30% da safra de grãos dos EUA perdida. O aumento de preços que já aparece no atacado vai chegar ao varejo."
Silveira também acredita que o grupo transportes não apresentará mais deflação. "Os combustíveis tendem a se estabilizar, porque já caíram demais." Em junho, os preços do grupo recuaram 0,03%, menos que o esperado pelos economistas, devido ao comportamento dos preços de automóveis novos. A expectativa era de redução entre 1% e 1,5% nos carros novos, mas houve uma alta de 0,01%.
Para a coordenadora de índices de preços do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Eulina Nunes dos Santos, os efeitos da redução do IPI para automóveis novos na inflação restringiu-se a junho, quando a queda nos preços foi de 5,48%.
Diante desse quadro, Thiago Curado, da Tendências Consultoria, não vê espaço para grandes oscilações no grupo transportes. Ele prevê variação próxima a zero neste mês, com base no comportamento dos núcleos de inflação, que excluem os itens mais instáveis do indicador "A média dos núcleos de inflação ficou em 0,46%, muito próximo ao resultado do IPCA, de 0,43%. Quando isso acontece, não há muito espaço para altas ou baixas."
Curado espera novas quedas nos preços dos combustíveis, que em julho caíram 0,65%, puxados pela redução de 2% no etanol. mas ele e Silveira consideram provável um novo reajuste do preço da gasolina ainda em 2012. Uma alta de 5% teria impacto de 0,2% no IPCA.
O economista da Tendências avalia que há espaço para reajuste na gasolina neste ano, porque o combustível está em queda e a inflação segue sob controle. " É provável que o reajuste seja feito neste ano, porque em 2013 as pressões serão maiores." Silveira, da TOV, também aposta num reajuste neste ano, mas não vê com tranquilidade a inflação. "O aumento dos combustíveis se somará ao dos alimentos e a inflação vai se acelerar."
Veículo: Valor Econômico