Em mais um sinal de arrefecimento do nível de atividade econômica, a inflação recuou em novembro e ficou abaixo das expectativas do mercado. No mês passado, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) registrou alta de 0,36%, inferior à elevação de 0,45% em outubro e também à média das projeções dos analistas, de 0,50%.
O recuo da taxa reforça as expectativas de que o Banco Central (BC) pode antecipar para o primeiro semestre do próximo ano o ciclo de redução da taxa básica de juros. Parte do mercado, no entanto, já aposta em um corte da Selic, hoje em 13,75% ao ano, na reunião de amanhã e quarta-feira do Comitê de Política Monetária (Copom). Em 12 meses, o IPCA desacelerou, passando de 6,41% para 6,39%.
O grupo Alimentação e bebidas foi o destaque do mês, ao apresentar desaceleração em um período em que tradicionalmente os preços sobem mais. Em novembro, o grupo registrou alta de 0,61%, ante 0,69% em outubro. "O resultado está relacionado à queda dos preços agrícolas no atacado e ao arrefecimento além do esperado da economia", afirma Fábio Romão, economista da LCA Consultores.
Pela primeira vez desde novembro de 2007, a média anualizada dos núcleos de inflação, medidas usadas para filtrar choques temporários e indicar a tendência de comportamento dos preços, ficou abaixo do centro da meta perseguida pelo governo – de 4,5% com margem de variação de dois pontos percentuais para cima ou para baixo. Pelos cálculos da LCA, a taxa mensal registrou alta de 0,33%, o representa uma inflação anualizada de 4%, após elevação de 4,9% em outubro. Em novembro de 2007, o indicador subiu 4,4%.
Para Francis Kinder, da Rosenberg & Associados, o dado de novembro sinaliza para uma queda da inflação entre o primeiro e segundo trimestre de 2009. Segundo a consultoria, o núcleo por exclusão acumula alta de 6,44% em 12 meses, após elevação de 6,50% apurados pelo IPCA-15. "Isso mostra melhoria dos indicadores pela influência da atividade econômica", disse, destacando a deflação de 0,12% em bens duráveis.
O economista-chefe da Concórdia Corretora Elson Teles concorda que há sinais de que nível de atividade começa a influenciar o comportamento da inflação. É o caso dos preços de veículos usados e novos, que recuaram 2,61% e 0,40%, respectivamente. "O resultado foi favorável, mas não dá para encerrar a questão. Não podemos extrapolar o dado de um mês."
Nesse sentido, Teles considera que ainda é cedo para pensar em um corte na Selic e espera a manutenção da taxa na reunião desta semana. "Há muitas dúvidas ainda sobre os rumos da economia", comenta. Romão compartilha da opinião. "O conservadorismo do BC não é injustificado. Ele precisa de mais sinais, se a desaceleração da economia vai compensar a alta do dólar", comenta. Para os economistas o BC pode, entretanto, antecipar do segundo para o primeiro semestre a redução da Selic. Já Kinder prevê um corte de 0,25 ponto percentual. "A desaceleração da atividade é muito forte, e o que era motivo de preocupação para inflação não existe mais", afirma.
Veículo: Gazeta Mercantil