Crédito mais caro deve desacelerar produção no último trimestre do ano

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A produção industrial deve registrar desaceleração nos meses de outubro (cujo resultado será divulgado hoje pelo IBGE) e uma retração mais significativa em novembro, resultado do encarecimento do crédito voltado para a exportação e da redução da atividade no setor automotivo e em setores eminentemente exportadores. Para o quarto trimestre, economistas estimam que a produção deva crescer 3%, menos da metade das projeções feitas para o terceiro trimestre, entre 6,7% e 7%. Para outubro, na comparação com setembro, as previsões variam de menos 0,8% até alta de 0,5%. 

 

Três indicadores relativos à atividade industrial em novembro indicam piora nos resultados em comparação com outubro. O setor automotivo registrou em novembro queda de 22,28% nas vendas em relação a outubro, totalizando 309.712 unidades, conforme divulgou ontem a Federação Nacional de Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave) . Em relação a novembro de 2007, a queda foi de 23,44%. O resultado foi associado à restrição de crédito e da confiança do consumidor ante a crise financeira externa. 


 
O Índice Gerentes de Compras (PMI), indicador de atividade industrial do Banco Real, apresentou queda pelo segundo mês consecutivo - desta vez em oito dos 11 itens. O índice geral atingiu 41,6 pontos em novembro, ante 45,7 em outubro e 50,4 em setembro. O indicador vai de zero a 100 e resultados abaixo de 50 indicam queda. Houve retração nos itens produção (37,6 pontos), novos pedidos (36,4), pedidos de exportação (36,9), pedidos em atraso (38,1), estoque de bens finais (49), emprego (44,4), compra de insumos (38,2) e estoque de insumos (49,6). Houve elevação apenas em preço dos bens finais (52,2), preço dos insumos (59,3) e prazo de entrega dos fornecedores (50,4). 

 

"Houve queda dos pedidos em atraso e as encomendas estão mais fracas, o que vai produzir desaceleração no trimestre", avaliou o economista do Banco Real Cristiano Souza. Para outubro, ele projeta aumento na produção de 4% sobre igual intervalo de 2007 e de 0,5% sobre setembro. A Tendências Consultoria também projeta alta de 0,5% em outubro sobre setembro, e de 4,2% sobre 2007. 

 

A LCA Consultores estima para outubro alta de 2,5%, com recuo de 0,8% na margem, resultado da desaceleração nos setores automotivo, siderúrgico e do fraco desempenho nas exportações de bens manufaturados e na importação de matérias-primas. A MB Associados projeta queda de 1,5% sobre setembro e alta de 1,2% em relação a outubro de 2007. "Os poucos indicadores que tiveram resultado positivo foram produção de papelão [1,2%] e o índice da Fiesp [0,2%], mas ainda assim dados próximos de zero", observou o economista-chefe da LCA, Bráulio Borges. 

 

Para novembro, Borges prevê resultados inferiores aos de outubro, tendo por base os dados da Fenabrave e o Índice de Confiança da Indústria (ICI) da Fundação Getúlio Vargas (FGV), divulgado sexta-feira, que apresentou redução no nível de uso da capacidade instalada de 85,3% em outubro para 84% em novembro, com ajuste sazonal. Devido ao desempenho mais fraco no bimestre, afirma Borges, a produção industrial tende a fechar o quarto trimestre com crescimento de 3% sobre igual período de 2007, e com queda de 1% sobre o terceiro trimestre com ajuste sazonal - seria a primeira queda desde o terceiro trimestre de 2005. No terceiro trimestre deste ano, estima, a indústria cresceu 7% e 2,5% na margem. Ele associa o resultado à forte queda na confiança de consumidores e empresários. 

 

A MCM Consultores Associados também projeta para o quarto trimestre crescimento de 3%, contra 6,75% no terceiro trimestre. A economista Lygia César aponta como indicadores o arrefecimento das importações, da produção de bens intermediários e de consumo. 

 

O economista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Leonardo Mello de Carvalho, soma outros indicadores para o resultado menor da indústria no trimestre. Entre eles está o efeito da política monetária de elevação da taxa de juros, iniciada em abril, a queda brusca na oferta de crédito (sobretudo para financiar a exportação) e seu encarecimento e a própria base de comparação - a indústria cresceu 7,9% no quarto trimestre de 2007. "Em outubro e novembro houve piora no desempenho dos setores automotivo e da construção civil. As mudanças anunciadas pelo Banco Central nas regras de oferta de crédito podem ter ajudado setores exportadores, mas não há garantia de que esses últimos compensaram os primeiros", disse. 


 
Veículo: Valor Econômico


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