As exportações brasileiras, que neste ano devem somar US$ 202 bilhões, com aumento de 26,2% em relação ao ano passado, em 2009 devem avançar em torno de 6%, segundo analistas. Com isso, o saldo da balança comercial, que chegará em dezembro à casa dos US$ 20 bilhões, em comparação a US$ 40 bilhões de 2007, no ano que vem ficará em torno de US$ 13 bilhões, indicam as projeções.
Os números retratam os efeitos da crise do sistema financeiro dos Estados Unidos, que se alastra pelo mundo provocando redução da demanda - e anulando eventual vantagem cambial, com o dólar valendo mais de R$ 2 em 2009, segundo os economistas - e desaquecimento de economias importantes, como as da Europa e Japão, ambas já em recessão.
Os indicadores mostram também que, apesar de avanços recentes - como diversificação de produtos e países para os quais o Brasil vende, além de redução de obstáculos burocráticos - ainda resta muito por fazer para preparar melhor a máquina exportadora contra períodos de adversidade.
"É certo que houve redução de entraves da burocracia, principalmente por esforço do Ministério do Desenvolvimento (MDIC) e da Câmara de Comércio Exterior (Camex), e que o Brasil cresceu muito nos últimos seis anos em termos de exportação. Mas isso se deveu principalmente ao aumento da demanda mundial", diz José Augusto de Castro, vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB). "Quando o mundo estava bem, nós também estávamos. Agora que o mundo virou, estamos de cabeça para baixo." A entidade vai promover nos dias 27 e 28, no Centro de Convenções da Firjan, no Rio, o 28º Enaex - Encontro Nacional de Comércio Exterior - que este ano tem como tema a modernização competitiva do comércio exterior e a busca de alternativas para evitar a vulnerabilidade externa e minimizar efeitos de crises internacionais.
Durante o evento, grupos técnicos discutirão propostas de desburocratização, melhoria da infra-estrutura de transportes, logística de exportação, reforma tributária, exportação de serviços e sistema de financiamento. No final, as sugestões serão encaminhadas ao governo e ao poder legislativo.
Segundo o secretário de comércio exterior do Mdic, Welber Barral, medidas tomadas pelo governo desde 2003 reduziram a dependência de grandes economias como a americana e européia. "Para se ter uma idéia, em 2002, mais de 25% das exportações brasileiras (US$ 15,3 bilhões) foram destinadas ao mercado americano. Em 2007, o percentual caiu para 15,6%, embora o volume tenha crescido para US$ 25 bilhões. Nesse período as empresas brasileiras passaram a vender mais para países latino-americanos, africanos, asiáticos e do Leste europeu", diz ele.
Barral também considera um avanço as medidas que estão sendo tomadas para ajudar os exportadores que enfrentam dificuldade com crédito no exterior devido à crise. "Foi observada uma redução nas linhas de crédito às empresas brasileiras e por isso o governo autorizou o retorno das operações de swap cambial, realizou empréstimos com garantias em global bonds para o financiamento do comércio exterior e estabeleceu linha de swap com o Federal Reserve americano, no montante de US$ 30 bilhões. Além disso, está facilitando empréstimos com garantias em ACC e ACE", relata.
Mas os especialistas ressaltam que ainda é preciso vencer muitos outros obstáculos. "Os empresários adotaram uma atitude muito dinâmica, diversificando a pauta. Agora, falta mais ação do lado do governo, para aumentar a eficiência da máquina exportadora", afirma o ex-embaixador Rubens Barbosa, presidente do Conselho Superior de Comércio Exterior (Coscex). "Considero o exportador um verdadeiro guerrilheiro por conseguir trabalhar em meio a tanta burocracia, enorme carga tributária, sem falar no custo da falta de infra-estrutura de portos e estradas."
José Augusto de Castro, da AEB, cita alguns problemas clássicos da falta de infra-estrutura: "Nossos portos estão preparados para funcionar como se estivéssemos em 1950. Os navios demoram muito tempo nos portos e quem paga esse custo é o exportador. Temos a mesma malha ferroviária, em quilômetros, desde 1920", comenta.
Ele acrescenta que o número real de empresas exportadoras também não tem crescido. "Em 2001, havia 17.267 exportadoras, hoje são 18.688. Desde abril do ano passado, o governo passou a considerar exportadoras as empresas ou pessoas físicas que vendem para o exterior pequenas quantidades via correio, o que distorce o cenário de fato."
A despeito de toda a crise atual e dos gargalos que ainda precisam ser resolvidos, Fernando Ribeiro, da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex) e outros economistas afirmam que o país ainda está se saindo melhor do que outros emergentes. "O Brasil está relativamente bem colocado nessa crise, melhor que vizinhos, como a Argentina, e que países do Leste europeu, que a nosso ver têm adotado políticas erradas nos últimos anos", afirma Sérgio Vale, economista-chefe da consultoria MB Associados. "Não há como se blindar totalmente contra uma crise como esta. O que pode ser feito é estar mais sensível ao crédito, como o governo tem feito. Mas talvez no futuro próximo ele possa oferecer essa ajuda com menos restrições técnicas, para ajudar também empresas médias e menores", comenta o economista André Sacconato, da consultoria Tendências.
Veículo: Valor Econômico