A crise econômica internacional exige medidas duras das autoridades em todos os continentes, mas países como Brasil e os demais integrantes do Bric (Rússia, Índia e China) sofrerão menos que os países centrais, podendo transformar-se em parte da solução para a reativação da econo-mia global. Esse parece ser o consenso dos participantes do Congresso Latino-Americano de Economia e Econometria, que teve início ontem, no Rio de Janeiro, com a presença de vários Prêmios Nobel e cerca de 600 economistas de diversos continentes.
O papel do estado será testado de várias formas. "O pior cenário para os Estados Unidos é entrar em uma recessão onde não há motores reais na economia para sustentar o crescimento, de forma a trazê-la de volta aos trilhos", afirmou Daniel McFadden, professor da Escola de Economia de Berkeley, da Universidade da Califórnia, Prêmio Nobel de 2000. Segundo o economista, com o consumo prejudicado, uma vez que os americanos estão afogados em problemas de crédito, e sem o investimento privado, caberá ao governo norte-americano criar estímulos sérios - entre eles os de ordem fiscal - para trazer de volta o investimento à economia.
McFadden acredita que os Estados Unidos vivem, em parte, uma crise de ordem psicológica e de medo. "Nesses casos é preciso intervir de forma decisiva e massivamente", adiantou. Sua receita passa, em primeiro lugar, pela capitalização das instituições financeiras. "Isso já está sendo feito. E o governo talvez tenha que garantir o fluxo de crédito ou baixar as taxas."
O professor defende que os setores a serem beneficiados em larga escala sejam infra-estrutura, pesquisa e desenvolvimento, educação e até, em certa medida, transportes. Para McFadden, que diz pertencer ao grupo dos economistas "parcialmente pessimistas", há o risco de os efeitos da crise nos Estados Unidos permanecerem por até uma década, durante a qual o crescimento seria menor do que o habitual.
O Nobel acredita que um dos resultados óbvios da crise nos Estados Unidos é que o governo terá uma presença muito maior sobre o setor financeiro. "Até mais do que o desejável", disse. Na sua opinião, ideal seria que o Estado saísse do setor financeiro o quanto antes, desfazendo a nacionalização parcial dos bancos. "Mas, ao mesmo tempo, a regulação deverá crescer e ser muito bem pensada para impedir que as forças do mercado sejam autodestrutivas", comentou.
McFadden acredita que parte da recuperação da recessão global virá dos países do Bric. "Esses países não estão ficando para trás. Ao contrário, estão liderando e transformando a situação em uma oportunidade de aumentar o patamar de seus investimentos", resumiu. Para ele, o Brasil sofrerá com a crise em função da queda de preços das commodities. Segundo ele, o País deve promover iniciativas que possam se contrapor ao fenômeno, com aporte de crédito e estímulos fiscais. "É, ainda, um bom momento para investir em melhoria da produtividade, se houver fundos para isso", propôs.
Seu colega e também Prêmio Nobel, Michael Spence, agraciado em 2001, elogiou o Brasil. Segundo o professor da Stanford University, o País vem sendo muito bem administrado. "O Brasil tem reservas e uma economia forte", afirmou o economista.
Spence se diz otimista em relação ao Brasil. Sua ressalva ficou por conta da possibilidade de erros de política econômica, feitos em função da turbulência nos mercados financeiros, responsável por uma espiral de queda do valor da moeda e a subseqüente fuga do capital doméstico. "Nesse caso, será necessária uma posição de alerta do Banco Central e das autoridades brasileiras para evitar que o nosso problema afete vocês", concluiu.
Veículo: Gazeta Mercantil