Brasil ainda está sujeito à recessão, afirma especialista

Leia em 3min

A possibilidade de que o País sofra um processo recessivo não deve ser descartada. A avaliação é de Charles Calomiris, professor da Universidade de Columbia. "É certo que o Brasil deverá demonstrar efeitos defasados da crise. Entre os países da América Latina, é possível que tenha um desempenho menos ruim", disse o acadêmico ontem, durante seminário da Federação Brasileira de Bancos (Febraban). "Não é uma crise com as mesmas características da ocorrida na Ásia nos anos 90, mas países que produzem matérias-primas sofrerão", projetou.

 

Nas contas do especialista, a economia norte-americana deverá registrar contração de cerca de 10% em seu poder de consumo já durante o próximo trimestre. "É um número muito expressivo. Sou pessimista no que diz respeito a para onde vamos, pois os Estados Unidos têm atualmente uma liderança muito precária. Paulson perdeu mais de dois meses para intervir. Foi nosso pior fracasso administrativo desde a Grande Depressão", lamentou.

 

Para Calomiris, a crise só irá se dissipar quando houver mais clareza no valor real dos ativos imobiliários norte-americanos. "A chave é fixar e estabilizar o preço das residências. Isso pode ser feito dando incentivos fiscais ao financiamento hipotecário, explicou.

 

Matérias-primas em baixa

 

Os economistas que participaram do evento demonstraram preocupação com as duas principais formas de contágio da crise no Brasil: queda acentuada nas cotações de matérias-primas e escassez de crédito. Alta na inadimplência também está no radar "Esperamos que os valores das commodities não retornem aos patamares de 2001/2002, mas sabemos que elas não terão mais força para impulsionar a economia como estavam", afirmou Alexandre Schwarsman, economista-chefe do Banco Santander.

 

Um das empresas brasileiras mais sensíveis à queda na cotação das matérias-primas metálicas ´é a Vale, que aposta na força da robustez de seu caixa - reforçada por uma oferta de ações que somou R$ 19,4 bilhões - para encarar a turbulência. "O mundo está mais difícil de prever depois que trilhões sumiram sem ir para o bolso de ninguém", afirma Fábio de Oliveira Barbosa, diretor de finanças da mineradora.

 

Não são só as empresas que vislumbram a continuidade de um ambiente de crédito desfavorável. O encolhimento de linhas e redução de prazos são uma realidade para pessoas físicas desde a piora da crise. "O crédito, que deve fechar este ano com expansão de 25%, terá uma retração em 2009. Projetamos um crescimento de 20%", diz Uilson Melo Araújo, economista-chefe do Banco do Brasil (BB). "Também não é desprezível que, com a deterioração de fundamentos como emprego e renda, a inadimplência de pessoas físicas aumente", diz.

 

Novo jogo global

 

Para Paulo Rabello de Castro, presidente do Conselho de Planejamento Estratégico da Federação do Comércio do Estado de São Paulo, a crise abre uma nova oportunidade para o País. "O que está em jogo é o regime monetário do dólar. O real faz parte desse movimento. Dessa maneira, teremos a chance de fugir da síndrome dos juros altos e ingressar em uma nova fase, de maturidade fiscal, política e social", projetou.

 

Rabelllo de Castro aproveitou a ocasião para criticar a postura do governo brasileiro durante a crise. "O governo demonstra uma total falta de sintonia com a população, dizendo aos consumidores que gastem em um momento em que, intuitivamente, eles sabem que não é o mais adequado para isso", disse o economista.

 

Veículo: Gazeta Mercantil


Veja também

Mercado aquecido anima pequenas empresas

O pequeno empresário está relativamente otimista quanto aos rumos do País e do seu próprio n...

Veja mais
Confiança do consumidor cai para o menor nível em 3 anos

Dúvidas sobre situação financeira, trabalho e consumo puxaram índice para baixo.Mau humor br...

Veja mais
Consumidoras reduzem compras por impulso

Por conta do temor da crise econômica, boa parte das mulheres vai evitar as compras por impulso para planejar melh...

Veja mais
Pesquisa aponta a piora para o cenário econômico brasileiro

A restrição de capital foi um dos problemas apontados por analistas da América Latina que podem con...

Veja mais
Chuva deixa indústria da região Sul sem gás

O Rio Grande do Sul e a região sul de Santa Catarina estão sem abastecimento de gás natural desde a...

Veja mais
Exportador busca saídas para a crise

As exportações brasileiras, que neste ano devem somar US$ 202 bilhões, com aumento de 26,2% em rela...

Veja mais
Surgem sinais de inadimplência

Começam a surgir sinais de alta da inadimplência e os bancos já esperam uma piora do cenários...

Veja mais
Dólar completa quarta alta consecutiva

Em uma sessão esvaziada pelo feriado do dia da Consciência Negra, comemorado nas principais praças f...

Veja mais
Bric terá papel importante na reativação da economia global

A crise econômica internacional exige medidas duras das autoridades em todos os continentes, mas países com...

Veja mais