A expansão do consumo das famílias a um ritmo mais acelerado que o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), que tanto preocupa economistas e o Banco Central, não deve perdurar nos próximos anos. Um estudo elaborado pela Ernst & Young e FGV Projetos projeta um crescimento médio anual do consumo das famílias de 3,8% até 2030, abaixo dos 6,5% alcançados no ano passado e dos 6,6% apurados no primeiro trimestre deste ano. O desempenho também será inferior à expansão média do PIB, projetado em 4% ao ano até 2030 - o aumento foi de 6,2% em 2007 e de 5,8% nos três primeiros meses deste ano. Em um cenário mais otimista, a economia brasileira pode crescer 4,6% ao ano e o consumo das famílias, 4%.
Com isso, o consumo das famílias, que representou 56,3% do PIB em 2007, representará 53,8% do PIB em 2030. O principal fator de impulsão da economia brasileira, afirmou Fernando Garcia, da FGV Projetos, ainda serão os investimentos em formação bruta de capital fixo (FBCF), cuja taxa passará para uma uma taxa média de 22,7% do PIB - a média entre 1990 e 2007 era de 19%. Tal expansão suportará o aumento da oferta de energia e de infra-estrutura em níveis suficientes para sustentar o aumento da demanda. Segundo o economista, parte desse crescimento será proporcionado pelo avanço do investimento estrangeiro no país e pelos aportes nas obras do PAC e em projetos de infra-estrutura já definidos para receber turistas para a Copa de 2014.
De acordo com Garcia, as taxas de expansão superarão as médias apuradas entre 1990 e 2007, de 2,8% ao ano para o PIB e de 2,5% para o consumo das famílias. No cenário conservador, o PIB brasileiro passará de R$ 1,893 trilhão (US$ 962,9 bilhões) a R$ 3,3 trilhões (US$ 2,398 trilhões) até 2030, o que permitirá ao país subir da décima para oitava posição no ranking das maiores economias, ultrapassando Canadá e Espanha. O mercado consumidor brasileiro tem potencial para crescer de atuais US$ 1,07 trilhão para US$ 2,51 trilhões até 2030, tornando-se o quinto maior mercado consumidor do mundo, ficando abaixo de Estados Unidos, China, Índia e Japão. Hoje o país possui o oitavo maior mercado doméstico, perdendo para esses países e de Alemanha, Grã-Bretanha e França.
O PIB mais que dobra de tamanho, mas a população cresce em ritmo menor, chegando a 233 milhões de habitantes - um indicativo de que haverá expansão da renda das famílias e maior mobilidade social nas próximas décadas. O PIB per capita deve aumentar de US$ 5.092 para US$ 10.269. Pelo estudo, famílias que hoje têm renda mensal de R$ 1 mil a R$ 4 mil, consideradas como classes A e B e que hoje responde por 41% do consumo doméstico, aumentarão sua participação para 45,7%. Famílias com renda de R$ 4 mil a R$ 16 mil terão sua participação elevada de 29,9% para 41,3%; a participação das famílias com ganho inferior a R$ 1 mil recuará de 18,8% para 6,5% do total.
A análise aponta tendência de envelhecimento da população - hoje a faixa etária predominante possui menos de 25 anos de idade; em 2030, será a população entre 30 e 55 anos - e melhora no nível de escolaridade da mão-de-obra, de 7,8 para 11,8 anos. "Essas são pré-condições para promover maior mobilidade social e uma mudança profunda no perfil da sociedade brasileira", observou Garcia. Na avaliação do sócio da Ernst&Young, Sergio Citeroni, as despesas familiares com bens de consumo não-duráveis, como alimentos, fumo e bebidas, além de transportes e combustíveis devem perder participação nas próximas décadas, com expansão significativa dos setores de serviços, como habitação, saúde, educação e cultura.
Dos R$ 3,3 trilhões que as famílias consumirão em 2030, 25,2% serão gastos com habitação, ou R$ 829,2 bilhões, ante R$ 323,4 bilhões em 2007. O segundo item nos gastos será serviços de energia, gás, saneamento e lixo, que representarão 12% dos gastos das famílias, seguido por alimentos beneficiados (8,2%) e transportes (5,6%).
Veículo: Valor Econômico