Varejo já está sem fôlego, dizem analistas

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A forte antecipação do consumo de automóveis em agosto, o elevado nível de endividamento das famílias e a moderação no ritmo de crescimento do crédito tiraram fôlego do consumo em setembro, mês em que as vendas do varejo ampliado, que inclui o setor de veículos e material de construção, encolheram 9,2% sobre agosto, feitos os ajustes sazonais. Excluindo-se esses dois segmentos, o comportamento do comércio também foi modesto no período, com alta de apenas 0,3%. Os dados são da Pesquisa Mensal de Comércio (PMC), divulgada ontem pelo IBGE.

Os economistas já esperavam alguma acomodação no varejo após o desempenho robusto observado nos últimos meses, mas apontam que, independentemente da prorrogação do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para carros, móveis e linha branca, setores atrelados ao crédito já não têm mais tanto espaço para variações robustas. Assim, a expectativa é que as vendas mantenham compasso mais suave nos meses finais do ano, com algum repuxo no segmento de carros em outubro.

Na passagem de agosto para setembro, apenas quatro entre os dez ramos de atividade pesquisados pelo IBGE aumentaram as vendas. A técnica de coordenação de serviços e comércio do instituto, Aleciana Gusmão, afirmou que o alto nível de endividamento das famílias registrado em agosto - 44,4% em relação à renda acumulada nos últimos 12 meses, pico da série histórica do Banco Central - teve reflexo na decisão de compras que dependem de financiamentos. Segundo ela, móveis, microcomputadores, construção civil e veículos são os principais produtos que têm a demanda reduzida com o aumento das dívidas.

Aleciana vê efeitos da renda mais comprometida na queda de 9,2% no segmento de equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação, assim como no recuo de 1,5% em móveis e eletrodomésticos.

O mesmo ocorreu com veículos, cujas vendas encolheram 22,6% na passagem mensal, maior queda registrada nesse setor desde o início da série histórica da PMC, em janeiro de 2003. "Esse movimento gera certa frustração quanto à recuperação da atividade, porque evidencia que os números anteriores foram muito mais uma antecipação de consumo do que criação real de demanda", diz Thiago Carlos, da Link Investimentos. Com a forte retração, Carlos calcula que o comércio ampliado ficou 1,9% abaixo do nível observado em abril, mês anterior ao corte do IPI.

A partir de dados da Fenabrave, que mostram alta de 17,8% das vendas de automóveis e comerciais leves em outubro ante setembro, o analista espera alguma recuperação para o mês, mas pondera que os estímulos do imposto menor ao consumo vão perdendo força. "Na próxima leitura da PMC, o impacto do IPI sobre as vendas será muito menor, o que cria perspectivas menos otimistas para o varejo daqui em diante", avalia.

Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados, diz que o estímulo fiscal causa muita volatilidade na variação das vendas e, consequentemente, traz incertezas quanto ao ritmo da atividade econômica nos próximos meses. Segundo ele, a acomodação do varejo em setembro, junto com a queda da produção industrial, reforça que a reaceleração no terceiro trimestre não foi tão forte como o antecipado anteriormente.

"O crescimento em 2012 foi decepcionante e ainda assim vai depender de uma recuperação mais forte de automóveis no último trimestre. Isso aconteceu em outubro, mas vai haver nova desaceleração em novembro", diz Vale.

Para Alexandre Andrade, da Votorantim Corretora, a greve dos bancários em setembro afetou as concessões de crédito no período e, por isso, o dado não traz maiores preocupações, assim como os números mais fracos do comércio em setembro. "O varejo ainda tem um bom ritmo, em linha com as condições favoráveis do mercado de trabalho. Era de se esperar uma contração após a forte antecipação registrada em agosto", diz.



Veículo: Valor Econômico


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