O mercado de crédito brasileiro, especialmente a parcela destinado ao varejo, parece andar de forma independente dos problemas econômicos. Nem o processo de alta da Selic, nem a crise externa, iniciada na inadimplência das hipotecas americanas e que já provoca uma desaceleração nos mercados europeus, tem provocado arrefecimento dos empréstimos para o consumo.
"Aparentemente não há nenhum efeito sobre o crédito", afirma Lauro Gonzalez, professor de Finanças da Fundação Getúlio Vargas, durante o seminário "Produtos e Serviços Financeiros no Varejo", organizado pela FGV. Os empréstimos para o comércio varejista, lembra o professor, avançaram a taxas superiores a 2% nos últimos dois anos. Já o crédito ao consumo, evoluiu cerca de 3% ao mês em 2008. "Isso se deu sem um aumento da inadimplência das carteiras".
Para ele, avaliando as condições macroeconômicas da economia brasileira, como expectativa de crescimento do PIB e juros, até fatores micro, como o cadastro positivo e a disposição das instituições de emprestar, é possível ter uma visão otimista dos próximos meses. "Há mais fatores positivos do que negativos".
Na visão de Franck Vignard-Rosez, diretor da Cetelem, controlada pelo grupo francês BNP Paribas, o mercado brasileiro ainda não sofre com os problemas da crise global. "Na Europa, os consumidores estão mais preocupados, mas aqui no Brasil o mercado interno está aquecido e o Brasil ainda não sofre tanto". Para ele, a situação ainda não preocupa, mas exige "pontos de atenção".
O crédito no Brasil ainda tem espaço para crescer por conta do aumento da renda. Pesquisa anual realizada pela Ipsos-Public Affair a pedido da financeira aponta que a participação da classe C no total de consumidores, passou de quase 67 milhões, em 2006, para aproximadamente 86 milhões no ano passado.
Além disso, apesar do aumento do endividamento, os prazos mais longos e a renda maior permitiram que as pessoas gastassem menos com os empréstimos. Com renda média mensal de R$ 1 mil, os brasileiros gastam cerca de R$ 60 com pagamento de prestações e crediário. O valor é 17% inferior ao registrado em 2006 (R$ 73).
Marcelo Noronha, diretor da Bradesco Cartões, destaca ainda a importância dos cartões na relação entre os varejistas e bancos e que a inadimplência no segmento também está controlada. "Hoje, mais de dois terços das operações são feitas pelo parcela sem juros do cartão, mais de R$ 37 milhões. Com isso, a inadimplência total, incluindo o parcelado e o rotativo, está na casa dos 8,7% e com tendência de queda".
Veículo: Valor Econômico