As expectativas do mercado para a inflação de fevereiro pioraram, apesar do recuo observado nos índices de preço semanais. A mediana das projeções entre os chamados Top 5 (os analistas que mais acertam as projeções) para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de fevereiro passou de 0,40% para 0,49% no boletim Focus, do Banco Central.
No conjunto das projeções, que envolvem cerca de cem instituições, o dado ficou quase estável e passou de 0,40% para 0,41%. Para 2013 fechado, as expectativas também pararam de se deteriorar após seis semanas de altas consecutivas. Para o ano, a mediana das projeções teve ligeiro recuo, de 5,71% para 5,70%. Há um mês, a mediana estava em 5,65%.
A piora na expectativa do grupo Top 5 veio na contramão das pesquisas semanais de inflação. O Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S), calculado pela Fundação Getulio Vargas, desacelerou de 0,88% para 0,55% da primeira para a segunda quadrissemana de fevereiro, e deve continuar desacelerando até o fim do mês, segurado principalmente pela queda nas tarifas residenciais de energia elétrica. "O impacto máximo (da redução na energia) virá ainda na terceira semana de fevereiro", explicou o economista-sênior do Banco Espírito Santo (BES), Flávio Serrano. A redução das tarifas passou a valer a partir do fim de janeiro.
A queda de 13,39% nas tarifas de energia elétrica coleta no IPC-S foi a principal responsável pela desaceleração de 0,33 ponto percentual índice da segunda quadrissemana de fevereiro. Nos cálculos de Paulo Picchetti, coordenador do IPC na FGV, a categoria, sozinha, foi responsável por uma queda de 0,13 ponto - o equivalente a 39,4% do total. "A energia elétrica foi a grande contribuição para o IPC-S, compensando os aumentos da gasolina e do álcool", disse Picchetti. O reajuste desses dois itens teve impacto positivo, respectivamente, de 0,03 e 0,01 ponto na segunda quadrissemana.
Com a redução em eletricidade, aliada a outras desacelerações já esperadas para fevereiro - caso de educação formal (que passou de 5,68% para 3,25%) e de cigarros (de 8,51% para 5,51%) -, o economista manteve sua projeção para o IPC-S do mês em 0,20%. Na previsão do BES, o IPC-S encerrará fevereiro com alta de 0,25%. A mesma tendência deverá se repetir no IPCA do mês - a previsão do banco é que o índice oficial chegue a 0,35% no mês, também puxado para baixo pela redução na conta de luz.
"No nosso cálculo, o impacto do preço da gasolina será de 0,18 ponto percentual para cima no IPCA, enquanto o peso da energia será de 0,58 ponto para baixo", explicou Serrano, que projeta um IPCA de 5,8% para 2013. Para Serrano, a percepção apresentada pelo Focus possui uma defasagem de alguns dias com relação aos dados coletados pelo IPC-S, e não reflete ainda a inesperada melhora climática e o arrefecimento na alta do preço dos alimentos que ocorreu no fim da última semana.
Analistas concordam, no entanto, que passado o impacto das reduções agressivas em energia, algo que deve ter reflexos até março, a tendência é que os índices voltem para patamares mais altos. "Estamos falando de eventos pontuais, e que não irão se repetir todos os meses", diz o sócio-diretor da RC Consultores, Fábio Silveira. "Há ainda uma série de contratos a serem reajustados, como aluguéis e serviços, que são regidos pelo IGP, que segue elevado, na faixa de 0,7% a 0,8% ao mês", pontua.
O boletim Focus manteve em 7,25% as projeções para a taxa básica de juros, a Selic, no fim do ano. A discussão sobre se o BC vai ou não elevar os juros para conter a inflação ganhou mais ingredientes na sexta-feira, com declarações do ministro da Fazenda, Guido Mantega, de que o câmbio não será usado para controle dos preços. Antes de participar da reunião dos ministros de Finanças do G-20, em Moscou, Mantega disse não haver descontrole de preços no Brasil, mas que a inflação acima do centro da meta "acende um sinal de alerta". Disse ainda que o juro e não o câmbio é instrumento para controlar a inflação.
Veículo: Valor Econômico