BC insiste que juro não sobe, mas mercado mantém aposta na alta

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Presidente do Banco Central nega riscos de descontrole inflacionário e diz que estratégia de manter a Selic inalterada ainda é válida



O presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini, buscou ontem eliminar ruídos e dar pistas mais claras sobre a atuação do Comitê de Política Monetária (Copom), depois que o mercado passou a apostar na alta do juro básico (Selic) ainda este semestre, com base em declarações de autoridades nas últimas semanas.

Em tom mais incisivo que o usual, Tombini negou riscos de descontrole inflacionário e reiterou que a estratégia de manter a Selic inalterada ainda é válida. Ao mesmo tempo, admitiu que o BC poderá voltar a elevar a taxa por motivos técnicos, mas menos intensamente que no passado.

"Queria deixar bem claro: não existe hoje no País risco de descontrole da inflação, não obstante o fato de o Brasil ter conseguido alcançar um novo patamar para as taxas de juros", afirmou. "O Banco Central tem comunicado a sua estratégia, que permanece válida neste momento. Por outro lado, isso evidentemente não significa que os ciclos monetários foram abolidos."

De acordo com Tombini, quando as projeções internas do BC mostrarem a inflação acima da meta, a Selic poderá subir dos atuais 7,25% ao ano. O banco espera um Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 4,8% em 2013 e de 4,9% no ano que vem, segundo o último Relatório Trimestral de Inflação. A meta definida pelo governo varia de 2,5% a 6,5%.

"Quando necessário, se ensejado pelo cenário prospectivo para a inflação, a postura do BC em relação à política monetária será adequadamente ajustada", afirmou Tombini ontem. "Dito de outra forma, neste novo ambiente macroeconômico, como descrito, a taxa Selic oscilará em patamares mais baixos do que no passado."

As declarações de Tombini foram vistas por investidores como tentativa de demonstrar que tem autonomia para elevar a Selic no governo Dilma Rousseff, se isso for preciso.

O mercado vem aumentando as apostas em altas de juros depois que a inflação de janeiro atingiu o maior índice desde 2003 (0,86%).

Nova dúvida. Durante grande parte da terça-feira, as declarações de Tombini embasaram uma mudança nas apostas do mercado futuro de juros. A probabilidade de uma alta da Selic no curto prazo arrefeceu.

No entanto, a situação mudou perto do fim dos negócios, quando surgiram relatos do almoço do presidente do BC com oito senadores do bloco PTB-PR-PSC-PPL. Tombini, segundo o relato de alguns parlamentares, teria admitido que a inflação ficará alta no primeiro trimestre deste ano.

Perguntado por um dos presentes se o BC poderia aumentar a Selic para conter a pressão inflacionária já na próxima reunião do Copom, nos dias 5 e 6 de março, o presidente do BC não deu uma resposta direta. Afirmou apenas que a autoridade monetária poderá se valer de todos os instrumentos cabíveis para conter os preços.

No mercado, muitos investidores avaliaram o relato do almoço como mais um indício de que o BC está realmente preocupado com a inflação. Resultado: as taxas futuras subiram e fecharam perto das máximas do dia. O contrato para janeiro de 2014, por exemplo, fechou com taxa de 7,77%, ante 7,73% segunda-feira.

Apesar disso, houve quem fizesse uma ponderação. "Os relatos do almoço trouxeram apenas informações transmitidas pelos senadores. Não foram palavras diretas do próprio Tombini. Por isso, é preciso cuidado com as interpretações", observou o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves.



Veículo: O Estado de S.Paulo


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