Inflação fura teto da meta em 4 de 11 regiões

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IPCA vai sair hoje, juros futuros sobem e sinalizam ultrapassagem da meta de 6,5%

O teto da meta inflacionária já foi ultrapassado em 4 das 11 regiões pesquisadas pelo IBGE para o cálculo do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). A meta de inflação é 4,5%, com tolerância de 2 pontos porcentuais para cima e para baixo.

Em fevereiro, a taxa acumulada em 12 meses nesses locais, todos no Norte e Nordeste, rodava com aumentos de preços em nível bem acima do teto de 6,5% estipulado pelo governo.

Economistas consultados pelo Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado, previam ontem que o IPCA de março, que será divulgado hoje, ultrapassaria a meta. Para a maioria esmagadora das 45 instituições financeiras consultadas, o indicador ficaria entre 6,5% e 6,7%.

Se o IPCA superar o teto no acumulado em 12 meses, será a primeira vez que isso acontecerá desde novembro de 2011, quando a taxa foi de 6,64%. Em dezembro de 2011, a mesma taxa bateu em exatos 6,5% e, por pouco, o número, que representou o equivalente ao acumulado daquele ano, não superou o limite tolerado dentro da banda de inflação.

Na véspera da divulgação do IPCA de março, as taxas futuras de juros, principalmente de curto prazo, voltaram a subir, indicando que os investidores acreditam que o Banco Central deve elevar a Selic (que está em 7,25%), na semana que vem. Antes, a expectativa era de alta só em maio.

Profissionais de mercado atribuem as apostas em uma alta imediata dos juros a três fatores. Eles dizem que é há forte risco de a inflação ser mais alta do que estava sendo prevista.

Também citam o encontro da presidente Dilma Rousseff com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, o secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin, e três economistas - Delfim Netto, Luiz Gonzaga Belluzzo e Yoshiaki Nakano - como sinal de preocupação com a inflação.

Além disso, o discurso feito na segunda-feira pelo presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, na abertura do 26.º Fórum da Liberdade, em Porto Alegre, reforçou a impressão de que o BC vai elevar os juros.

Inflação regional. Os dados do IBGE mostram que a inflação acumulada até fevereiro superou a meta no Recife (7,44%), em Fortaleza (8,31%), Salvador (7,05%) e Belém (8,75%). A causa principal é o encarecimento da mandioca.

O teto da inflação nessas cidades foi ultrapassado há meses. O teto foi superado em Belém em outubro de 2012, quando a inflação atingiu 7,06%. No Recife, a inflação acumulada em 12 meses está acima da meta desde outubro: 6,87%. Em Fortaleza, desde dezembro de 2012, ao atingir 6,7%, enquanto em Salvador a taxa chegou a 6,74% em janeiro.

Com a antecipação da disputa eleitoral à Presidência da República, a inflação nessas cidades é motivo de preocupação econômica e também política. A entrada do governador pernambucano, Eduardo Campos, no jogo, em 2014, e a disparada de preços no Recife elevam a importância do controle da inflação no Nordeste na campanha eleitoral.

Alimentos.
A contenção dos preços dos alimentos deverá ser o foco de atuação da equipe econômica. "A alta de preços dos alimentos in natura ocorreu nacionalmente. Mas os alimentos têm maior peso no cálculo da inflação em cidades com menos renda, como as da Região Nordeste", destacou o economista do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV) André Braz. Se em São Paulo as despesas com alimentação e bebidas respondem por 22,9% da inflação, em Fortaleza, essa fatia sobe para 31,7%.

Rafael Coutinho Costa Lima, da Faculdade de Economia da USP e coordenador da Fipe, acrescenta que, nessas regiões, a melhora do rendimento mensal tem mais efeito sobre a inflação de alimentos, já que, nesses locais, a população tende a gastar mais com as compras de supermercados do que em São Paulo ou Rio de Janeiro, onde o IPCA em 12 meses não atingiu o teto da meta até fevereiro (5,54% e 6,19%, respectivamente).

Apenas a farinha de mandioca, com grande participação na alimentação no Norte e Nordeste, ficou 16,15% mais cara em fevereiro.

Contrabando de tomate na fronteira


O preço recorde do quilo do tomate que em algumas cidades do Paraná passou dos R$ 8 esta semana tem levado consumidores de Foz do Iguaçu a cruzar a fronteira para comprar o produto na Argentina. Ontem, o tomate era vendido nos mercados de Puerto Iguazú por R$ 3 o quilo. Para os distribuidores brasileiros, a queda nas vendas chega a 50%. Já o aumento repentino da procura nos últimos dias está tornando o tomate mercadoria rara no comércio da cidade vizinha.

"Estamos vendendo o que temos, e não é muito", disse Antonio Garrido, que só esta semana disse ter triplicado o estoque e já pensa em reforçar os pedidos aos fornecedores. "Se não conseguir, o jeito vai ser aumentar um pouco os preços porque o tomate está começando a faltar em algumas regiões", conta, ao explicar que em outros municípios argentinos que fazem fronteira com o Brasil a procura também está bem acima do normal.

Apesar de a estratégia de apelar para os países vizinhos em épocas de alta de preços ser bastante comum em regiões de fronteira, a prática neste caso é considerada contrabando, alertam as autoridades brasileiras. Segundo o chefe do Ministério da Agricultura em Foz do Iguaçu, Antônio Garcez, quem comprar o tomate na Argentina pode perdê-lo, já que o certificado fitossanitário internacional exigido para esse tipo de produto só é fornecido no processo de exportação convencional.



Veículo: O Estado de S.Paulo


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