A inflação, medida pelo IPCA, deve continuar alta neste mês, mas cairá fortemente entre maio e agosto. É alta a probabilidade de o índice, em algum desses meses, registrar deflação. A previsão é do economista-chefe do banco Credit Suisse, Nilson Teixeira, um dos analistas que acertam projeções econômicas no país.
Num estudo oferecido com exclusividade ao Valor, Teixeira e sua equipe estimam que o IPCA de abril, ainda
pressionado pelos alimentos, atingirá 0,45%, face a 0,47% de março. Por razões sazonais, nos próximos quatro meses o índice terá forte queda, auxiliada por uma série de desonerações tributárias e outras medidas adotadas pelo governo federal.
Os preços dos alimentos in natura, que incluem os grupos tubérculos (batata, por exemplo), raízes, legumes, hortaliças, verduras e frutas, costumam aumentar entre janeiro e abril, recuar entre maio e setembro e subir novamente entre outubro e dezembro. Nos últimos 12 meses, esse padrão foi alterado pela expressiva alta dos preços ao longo de todo o período. "Em março, os preços desses alimentos estavam 39% superiores ao nível do mesmo mês do ano anterior, sendo que nossa projeção é de que a inflação acumulada em 12 meses em abril seja de 48%", diz Teixeira.
A inflação de bens industriais, serviços e preços administrados (ex-alimentos) também tende a diminuir entre abril e agosto. Uma explicação para isso é que, nesse período, geralmente não há reajustes de preços
monitorados e de serviços. Os aumentos são mais comuns no começo do ano - por exemplo, transporte urbano, mensalidade escolar e serviços por causa da correção do salário mínimo.
Um conjunto de seis fatores deve contribuir para o forte recuo do IPCA projetado pela equipe do Credit Suisse.
O primeiro é a já mencionada redução dos preços dos alimentos in natura - se voltarem a patamares históricos, contribuirão com recuo de 0,45 ponto percentual da inflação no curto prazo. Já a desoneração de impostos do transporte urbano (PIS-Cofins sobre óleo diesel) pode evitar alta de 0,15 ponto percentual do IPCA neste ano.
A limitação do reajuste das distribuidoras de energia em 2,99% ao longo do ano pode impedir alta de 0,11 ponto percentual do IPCA em 2013. Nesse caso, o Tesouro teria que compensar a diferença financeira entre o reajuste autorizado pela Aneel e esse limite de 2,99%. O Credit Suisse projeta reajuste médio, no ano, de 7% nas tarifas cobradas pelas distribuidoras.
Em estudo pelo governo, a desoneração de equipamentos hospitalares, por sua vez, reduziria os reajustes dos planos de saúde e evitaria alta de até 0,21 ponto percentual na inflação deste ano. Já decidida, a manutenção da desoneração do IPI de automóveis impedirá, por sua vez, elevação de 0,15 ponto percentual na inflação. A desoneração de PIS-Cofins sobre etanol tenderia a reduzir o IPCA em 0,12 ponto percentual.
No total, as iniciativas de desoneração mencionadas poderiam evitar alta de 0,74 ponto percentual no IPCA em 2013, o que explica a obsessão do governo em enfrentar a inflação por meio da adoção dessas medidas, em vez de recorrer apenas à política monetária clássica (elevação dos juros).
Sem considerar essas desonerações, Teixeira e sua equipe fizeram simulações para três cenários distintos quanto ao comportamento dos preços de ex-alimentos e de alimentos in natura nos próximos meses. Para os demais alimentos (no domicílio e aqueles que não são in natura), determinaram impacto negativo de 0,25 ponto percentual no IPCA entre abril e maio, decorrente da desoneração da cesta básica realizada pelo governo.
Com base nessas premissas, no cenário pessimista, em que a inflação de ex-alimentos segue a trajetória máxima observada entre 2005 e 2012 e ocorre uma reversão de 50% nos preços dos alimentos in natura, o IPCA dos meses de maio a agosto e o acumulado em 12 meses seriam, respectivamente, de 0,39% (6,5%), 0,22% (6,7%), 0,31% (6,5%) e 0,35% (6,5%). No cenário médio, em que a inflação de ex-alimentos segue a trajetória média do período entre 2005 e 2012 e materializa-se reversão dos alimentos in natura para patamar próximo ao de dezembro de 2012, os resultados seriam: 0,24% (6,3%), - 0,07% (6,2%), 0,03% (5,8%) e 0,19% (5,5%).
No cenário otimista, em que os ex-alimentos seguem a trajetória mensal mínima verificada entre 2005 e 2012 e reversão de 1,5 vez da diminuição dos preços dos alimentos in natura considerada no cenário neutro, haveria deflação em três meses e inflação zero em agosto - - 0,01% (6,1%), - 0,38% (5,6%), - 0,35% (4,8%) e 0,0% (4,3%). "Mesmo no cenário mais pessimista, em que a inflação de ex-alimentos registre o seu patamar máximo entre 2005 e 2012 nos meses de maio, junho, julho e agosto e a reversão de preços dos alimentos in natura seja apenas parcial, a inflação permanecerá muito inferior à dos últimos meses", acredita Nilson Teixeira.
Veículo: Valor Econômico