Os alimentos e bebidas podem, pela primeira vez desde dezembro do ano passado, subir menos do que 1% neste mês, resultado principalmente da sazonalidade mais positiva para os alimentos in natura, embora os efeitos da desoneração da cesta básica ainda sejam pouco mensuráveis, argumentam economistas. Ainda assim, pressões em vestuário e o reajuste de remédios devem impedir uma desaceleração mais acentuada do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo - 15 (IPCA-15) em abril. A média das estimativas de 14 consultorias e instituições financeiras ouvidas pelo Valor Data aponta para avanço de 0,46% da prévia da inflação oficial em abril, com intervalo de estimativas entre 0,40% e 0,51%.
Embora seja apenas um recuo modesto em relação à alta de 0,49% do indicador em março, o resultado, se
confirmado, será suficiente para trazer a inflação acumulada em 12 meses para 6,46%, abaixo portanto do teto da meta perseguida pelo Banco Central, de 6,5%. O resultado será divulgado hoje pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O principal alívio para o IPCA-15 de abril virá de alimentação e bebidas, justamente o grupo que mais tem
pressionado a inflação nos últimos meses. Fabio Romão, da LCA Consultores, estima que esse conjunto de itens mostrará pela primeira vez desde dezembro do ano passado alta inferior a 1%, o que será essencial para que o índice marque avanço de 0,40% nesta leitura. Nas contas de Romão, o grupo alimentação deve deixar avanço de 1,4% em março para alta de 0,85% em abril. Essa perda de força, avalia, já será resultado da desoneração da cesta básica, assim como reflexo da deflação dos produtos agropecuários no atacado nos primeiros meses do ano.
Com altas mais moderadas dos alimentos, a expectativa é que o índice de difusão (porcentual de itens que
subiram naquele mês), que ficou um pouco abaixo de 70% em março, volte a ceder em abril.
Alessandra Ribeiro, economista da Tendências Consultoria, também avalia que a dispersão do aumento dos preços será menor em abril, embora permaneça em nível desconfortável. Esse ponto ganhou relevância porque vem sendo enfatizado pelo BC e foi apontado pelo Copom como uma das razões para a elevação da Selic em 0,25 ponto na quarta-feira.
O porcentual de preços em alta vai diminuir, diz Alessandra, justamente porque os alimentos estão subindo
menos. A economista estima para abril alta de 0,80% desse grupo, principalmente porque a alimentação no
domicílio deixará alta de 1,36% em março para avanço de 0,90% nesta leitura. "Essa será a grande pressão
baixista para o IPCA-15 de abril", afirma. Em relação à desoneração da cesta básica, Alessandra avalia que
ainda é difícil precisar o impacto sobre os preços.
Essa também é a opinião do economista-chefe do Banco ABC Brasil, Luis Otávio de Souza Leal. Os produtos
agrícolas, afirma, têm oferta variável e, portanto, o movimento dos preços depende mais da sazonalidade do que de alterações nas alíquotas tributárias. "Se o produto estiver na entressafra, o preço subirá independentemente da alíquota de PIS e Cofins." Em sua opinião, a redução de imposto para itens como carne, açúcar e óleo está contribuindo para diminuir os preços, mas esse movimento só ficará mais claro na leitura para o mês fechado.
Para Romão, da LCA, o grupo transportes também permitirá alta mais amena da inflação em abril. A gasolina, que nos últimos dois meses refletiu a alta de 6,6% dos combustíveis nas refinarias, deve ter deflação de 0,40% em abril, estima. Já o etanol, por causa da sazonalidade positiva, com o início da safra, também ficará mais barato neste mês.
Além disso, a decisão de manter a alíquota de Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para automóveis em 2% até o fim do ano evitará uma alta mais acentuada dos preços dos automóveis novos em abril. A princípio, estava prevista elevação da alíquota para 3,5% no início deste mês, mas o governo preferiu adiar essa alta para janeiro do ano que vem.
Por outro lado, Alessandra, da Tendências, lembra que há alguns fatores de pressão em abril que impedirão que o IPCA-15 desacelere mais rapidamente. O reajuste nos preços dos remédios, que poderá ser de até 6,31%, por exemplo, já deve começar a aparecer nesta leitura. A economista projeta alta de 0,95% dos produtos farmacêuticos no IPCA-15 de abril e de 2,05% na leitura para o mês cheio. Além disso, com o fim das liquidações o grupo vestuário, que subiu 0,48% em março, deve se acelerar.
Os economistas concordam que os alimentos continuarão a perder força nos próximos meses, tanto por causa da desoneração da cesta básica quanto por causa da desaceleração esperada para os alimentos in natura. Mesmo com inflação novamente abaixo do teto da meta, "não há prova cabal de que a inflação está melhorando e o comportamento dos núcleos e do índice de difusão continuará bastante importante", afirma Leal, do ABC Brasil.
Veículo: Valor Econômico