A retomada lenta e gradual da atividade está, aos poucos, surtindo efeito sobre a criação de empregos formais, trajetória que deve ficar mais clara em março, segundo economistas. A média de nove consultorias e instituições financeiras ouvidas pelo Valor Data aponta que naquele mês foram abertos 104,1 mil postos com carteira assinada - ainda abaixo das 111,7 mil vagas registradas em igual período do ano passado, mas resultado menos negativo do que no primeiro bimestre, quando houve recuo de 43% na mesma comparação.
As estimativas para os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) referentes ao mês passado, que serão divulgados hoje pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), variam entre geração de 57 mil a 130 mil vagas celetistas.
Perto do teto das projeções, Leandro Câmara Negrão, do Bradesco, trabalha com abertura de 125,5 mil postos com registro em carteira no terceiro mês do ano. Segundo Negrão, a indústria está reagindo, embora com volatilidade nos indicadores mensais, e deve ter puxado novamente as contratações no mês passado.
Em fevereiro, enquanto o saldo total de vagas foi 18% menor do que no mesmo mês de 2012, o do setor manufatureiro cresceu 70% nessa comparação. O ramo de serviços, por outro lado, observa o analista do Bradesco, demorou muito para ajustar seu estoque de ocupados a um nível de atividade menos vigoroso no ano passado e ainda opera com certo excesso de mão de obra.
"Esse setor, que foi muito importante em períodos de emprego mais forte, agora está segurando contratações", afirmou o economista, para quem os números do Caged indicam uma "leve recuperação, mas em patamar ainda bem fraco" se comparado a outros ciclos em que a economia também mostrava tendência de aceleração.
Em relatório, a equipe econômica do Itaú Unibanco afirma que a criação de empregos deve ganhar mais fôlego à medida que a atividade se recuperar. Para março, o banco prevê a abertura de 130 mil vagas formais, dado que, feito o ajuste sazonal, resultaria em saldo positivo de 82 mil postos. Se confirmada essa estimativa, a média móvel trimestral do Caged subiria para 74 mil no período encerrado em março, ante 57 mil nos três meses terminados em fevereiro, também segundo o ajuste do Itaú.
"O ritmo ainda é moderado, mas mais forte do que nos meses anteriores e suficiente para manter a taxa de desemprego nos atuais níveis baixos", escreve a equipe de economistas da instituição. Em fevereiro, os desempregados representaram 5,6% da População Economicamente Ativa (PEA) nas seis principais regiões metropolitanas do país.
Para Rafael Bacciotti, da Tendências Consultoria, o mercado de trabalho ainda passa por um processo de perda de dinamismo, reflexo da fraca expansão da economia em 2012, mas também de uma reação que não foi tão consistente como o previsto anteriormente neste primeiro trimestre. Em março, Bacciotti projeta que o saldo líquido entre admissões e demissões foi de 72 mil.
Além de uma perda de ímpeto das contratações, nota o analista, a oferta de trabalhadores também vem diminuindo, de acordo com cálculos dessazonalizados pela Tendências com base na Pesquisa Mensal do Emprego (PME), do IBGE. Em fevereiro, a PEA teria recuado 0,6% sobre janeiro.
Esse movimento, na opinião de Bacciotti, tem como pano de fundo o menor crescimento da população e o aumento da escolaridade da força de trabalho, mas também reflete notícias recentes de tom mais negativo sobre a economia brasileira, tanto em inflação como atividade, o que pode explicar a procura menor por ocupações. Quando os sinais de retomada forem mais firmes, afirma ele, a expectativa é que os dados de emprego também melhorem.
Veículo: Valor Econômico