O varejo começou a divulgar resultados de vendas dos primeiros meses do ano, e ao se retirar o efeito inflacionário dos números, o mercado chega à conclusão de que o volume vendido no país - em alimentos e eletroeletrônicos, especialmente - cresce pouco, e até registra queda. Analistas que avaliaram resultados já publicados, e recentes declarações de líderes varejistas, concluem que, se não fosse o efeito Páscoa em março (que eleva a demanda de não-duráveis) e a série de promoções inventadas pelas lojas nos últimos três meses, o nível do volume comercializado teria sido pior.
"Os supermercados não se queixam por causa da inflação, que engorda o valor vendido. Isso até dá alguma euforia no varejista, porque quando ele vê alta nas vendas em dois dígitos, fica animado. Mas como isso não é sustentável, porque é só recomposição de inflação, logo a euforia passa", diz Manoel de Araujo, sócio diretor da consultoria Martinez de Araujo.
Nas últimas semanas, Magazine Luiza, Grupo Pão de Açúcar, Via Varejo e Máquina de Vendas comentaram seus desempenhos de janeiro a março. "No primeiro trimestre, e principalmente nos primeiros dois meses, o mercado andou de lado. O mês de março já foi um pouco melhor", disse Marcelo Silva, diretor superintendente do Magazine Luiza, ao divulgar resultados de 2012. "Fevereiro foi fraco porque teve um dia a menos [em 2012, o ano foi bissexto], mas março teve a Páscoa e melhorou", afirmou José Roberto Tambasco, vice-presidente de negócios do varejo do GPA, ao ser questionado sobre o assunto na semana passada.
Segundo dados publicados ontem, a operação de supermercados e hipermercados do Grupo Pão de Açúcar registrou alta nas vendas líquidas de 10,9% no primeiro trimestre - acima das expectativas dos analistas - ao se incluir aberturas e lojas antigas. Mas ao desconsiderar inaugurações (que 'turbinam' o número), a alta foi de 6,4% (vendas brutas) - o que representa uma queda de 0,2% em termos reais, ao se descontar a inflação do IPCA. Esse é um indicativo de que o volume vendido em relação ao ano passado não cresceu.
Para abril, no varejo de supermercados, é pouco provável que o volume vendido terá algum forte crescimento. É que a Páscoa no ano passado aconteceu em abril, e portanto, o que eleva a base de comparação. Por outro lado, o mercado acredita que há espaço para acomodação nos preços e aumento no volume de vendas. "Não acredito em explosões de preços, e também esperamos algumas safras recordes", disse Tambasco.
Nesta semana economistas da FIA alertaram para o fato de que consumidores não estão trocando produtos mais caros pelos mais baratos - como ocorre normalmente em períodos em que há desaceleração econômica - mas simplesmente deixando de consumir determinadas categorias de produtos, como efeito na escalada da inflação de não-duráveis.
Nas operações de Casas Bahia e Ponto Frio, controladas pelo GPA, foi apurada alta de 9,3% nas vendas líquidas (lojas novas e antigas). Nos pontos inaugurados há mais de um ano, a alta foi de 6,8% - acima do esperado pelos analistas. Ao se considerar a inflação das categorias de eletro, móveis e colchões em 12 meses, divulgada pelo IBGE, o avanço real de vendas foi de 5,4%. Não é um número negativo, ao se considerar a forte base de comparação do ano passado, período de redução no IPI no segmento. A principal explicação para isso é o ritmo acelerado de liquidações, que ajuda a atrair consumidores.
No material de resultados publicado ontem, o GPA informou que "as lojas de Ponto Frio e Casas Bahia promoveram ações importantes de marketing, como a tradicional liquidação de início do ano, além de campanhas como 'Comprou Ganhou' e 'Economiza Brasil'. Essas campanhas contribuíram para aumentar o fluxo de clientes, assim como para incrementar o ticket médio do trimestre", informa.
Terceira maior rede de eletroeletrônicos do país, a Máquina de vendas teve alta de 7,5% nas vendas no acumulado de janeiro e fevereiro. Ao se descontar a inflação do setor, a alta foi de 5,8%.
Veículo: Valor Econômico