Vendas no varejo brasileiro caem em fevereiro com alta de alimentos

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Recuo foi de 0,4% sobre janeiro e de 0,2%em relação a igual mês de 2012, o que não ocorria desde 2003

As vendas no varejo brasileiro surpreenderam em fevereiro ao registrar um desempenho muito pior do que o esperado e o primeiro recuo anual desde novembro de 2003, afetadas pela inflação em alta, acendendo o sinal amarelo sobre a frágil recuperação da atividade econômica. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informou ontem que as vendas varejistas caíram 0,4% sobre janeiro e 0,2% sobre fevereiro do ano passado, abaladas pela demanda menor diante dos preços em alta.

“O preço foi o que freou a demanda do comércio em fevereiro e influenciou muito”, explicou o economista do IBGE Reinaldo Pereira, acrescentando que a inadimplência elevada e o reajuste menor do salário mínimo neste ano também pesaram.

No acumulado em 12 meses, a inflação do país registrou alta de 6,59% pelo IPCA em março, estourando o teto da meta do governo. Analistas ouvidos pela Reuters previam que as vendas subiriam 1,2% em fevereiro ante janeiro, e 3,65% sobre um ano antes.

“Isso acende o sinal amarelo porque o consumo é o que estava sustentando a economia”, avaliou o economista da Austin Rating Felipe Queiroz, para quem a economia brasileira crescerá 3,4% neste ano.

O IBGE também revisou os dados das vendas de janeiro sobre fevereiro, passando de alta de 0,6% para 0,5%. Com isso, a expansão vista no início do ano praticamente foi revertida com a queda em fevereiro.

Segundo o IBGE, seis das dez atividades pesquisadas tiveram resultados negativos na comparação mensal, entre eles hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo, com retração de 1% no período, depois de terem subido 1,4% em janeiro. Na comparação anual, esse segmento—que tem peso de cerca de 50% na formação da taxa global do varejo — recuou 2,1%, a primeira desde março de 2009 (-0,2%).

Já atividade de combustíveis e lubrificantes caiu 2,1% em fevereiro sobre janeiro, depois de subir 0,7% no mês anterior, a maior desde abril de 2011. “Só neste ano foram dois ajustes (de preços) nos combustíveis, que refletem no frete. Por isso até os preços dos alimentos ficaram mais caros, além de problemas de clima e safra”, disse Pereira.

Nenhuma das atividades avaliadas mostrou aceleração no crescimento em fevereiro. O IBGE informou ainda que, no mês, a receita nominal do varejo subiu 0,6% ante janeiro e 7,6% na comparação anual.

Varejo ampliado
As vendas do comércio varejista ampliado — que inclui o setor automotivo e material de construção— recuaram 0,7% em fevereiro ante janeiro e caíram 1,2% sobre igual mês de 2012. O setor varejista, com impulso do forte no mercado de trabalho e crédito relativamente barato, tem sido um do pilares da economia. Para o economista da XP Investimentos Daniel Cunha, o resultado das vendas varejistas em fevereiro ratifica a postura do BC, que vem repetindo que está acompanhando a evolução macroeconômica para definir os próximos passos da política monetária.

Efeito Carnaval, inflação e volta do IPI afetaram setor


A CNDL (Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas) e o SPC Brasil (Serviço de Proteção ao Crédito) atribuem o recuo nas vendas do comércio em fevereiro deste ano, divulgado pelo IBGE, ao “efeito Carnaval”, à inflação no setor de supermercados, ao aumento do preço da gasolina e à reposição gradual da alíquota de IPI para os produtos da linha branca. Na avaliação do presidente da CNDL, Roque Pellizzaro Junior, o recuo de -0,4% em fevereiro é considerado normal neste período do ano. “O resultado já era esperado, porque fevereiro é historicamente um mês atípico para o comércio no Brasil: tem menos dias úteis que janeiro. Além disso, o mês conta com o efeito Carnaval, quando a população destina boa parte da renda para viagens e grande parte do comércio não funciona”, disse. Sobre a inflação, a avaliação da CNDL, o governo deve levar em conta de que só a política de aumento de taxa de juros não pode ser o único remédio para conter a inflação. “O simples aumento da Selic deve impactar negativamente nas vendas.”

 

Veículo: Brasil Econômico


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