Balanços melhores, mas inflação preocupa

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Os balanços das companhias abertas no primeiro trimestre devem mostrar uma tendência de recuperação dos resultados operacionais, mas com forte pressão de custos ainda corroendo rentabilidade.

A economia ainda não retomou um crescimento consistente, e o aumento da inflação torna mais sombrias as perspectivas para o avanço do país ao longo do ano.

A temporada de balanços do trimestre começou ontem com a divulgação dos resultados da empresa de aluguel de veículos Localiza.

Segundo os analistas consultados pelo Valor, a inflação terá impacto nas empresas de diferentes formas, de acordo com o segmento em que atuam. Aquelas que conseguem repassar preços podem não sofrer tanto no curto prazo, mas em um segundo momento todos os setores serão prejudicados com as medidas do governo para conter a inflação e, consequentemente, frear a expansão do Produto Interno Bruto.

"A empresas que têm mais facilidade de repassar os aumentos de preços sofrem menos do que os que não conseguem se ajustar. No geral, entretanto, a insistência inflacionária não é boa para a economia como um todo, pois todas as atividades setoriais vão crescer menos nesse cenário", afirma Alessandra Ribeiro, economista da Tendências Consultoria.

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ficou em 6,59% em março, considerando o acumulado de 12 meses. Trata-se do maior percentual desde o fim de 2011 e ultrapassa o teto da meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), de 6,5% ao ano.

O setor de alimentos e bebidas é destaque no período. A primeira percepção, para os analistas, é que as famílias continuam com um nível de endividamento elevado e o consumo de determinados itens fica prejudicado pelo aumento nos preços de produtos básicos. "Alimentos é um dos setores de demanda mais inelástica, pois as pessoas não podem deixar de consumir esses produtos. Outras categorias, de itens mais dispensáveis, terão o desempenho afetado no período", afirmou Priscilla Burity, economista do Brasil Plural.

Nos segmentos de serviços e indústria, o aumento dos preços também está presente. Um dos principais catalisadores é a alta de custos para as empresas com pessoal, processo que se arrasta há muitos meses. Pela Pesquisa Industrial Mensal de Emprego e Salário (Pimes), divulgada pelo IBGE, os gastos da indústria com folha de pagamento subiram 4,3% em 2012, já descontado o aumento da inflação. Em um ano que a produção industrial caiu 2,7%, os valores pesam sobre os resultados das companhias.

A analista do Brasil Plural diz que a produtividade do trabalhador não está crescendo no mesmo ritmo que os salários. "Isso afeta as margens da indústria. Aumentando a demanda você, de fato, está criando um incentivo de longo prazo para a economia, mas enquanto o país não comporta essa demanda, aparece como aumento de custos para as empresas."

Algumas empresas reajustaram preços no início do ano com o objetivo de aumentar as margens, como as produtoras de papel Klabin e Suzano, as siderúrgicas Usiminas e CSN, e a Petrobras, que aumentou o preço do diesel e da gasolina. As empresas lideres em suas áreas de atuação podem até ganhar com um ambiente de preços mais altos, mas outras tantas sofrem quando não conseguem repassar os custos.

"Em parte as empresas conseguiram fazer repasse, especialmente as que operam ligadas ao setor de serviços. As que atuam em setor de commodities e indústria têm mais dificuldade de repassar. Isso vai aparecer nos balanços", afirma Paulo Gala, estrategista da Fator Corretora.

Tais gastos já afetaram os números do quarto trimestre de 2012 e o cenário não deve ser muito diferente neste início de ano. Nos meses de outubro, novembro e dezembro do ano passado a receita líquida das empresas de capital aberto subiu 14,7%, segundo levantamento do Valor Data com 233 companhias. Os custos tiveram crescimento maior, de 20,3%, e o lucro bruto aumentou apenas 2,5% na comparação anual.

O governo fez algumas manobras na tentativa de conter a inflação, entre elas a desoneração fiscal em vários setores e o corte nas tarifas de energia elétrica. As iniciativas, na opinião dos analistas, aliviam as pressões enfrentadas pelas companhias e, em alguns casos, podem aumentar as margens.

"Não vimos ainda efeitos no IPCA da desoneração desses diversos itens. O que pode estar acontecendo é que esses varejistas estão enfrentando uma série de aumento de custos, repassam porque os itens continuam com alta e se apropriam da redução dos impostos para aumentar as margens", afirma Silveira, da Tendências.

Como resultado do cenário atual, a percepção de crescimento que os balanços podem apresentar poderá ser diferente do avanço real das empresas. A prévia de vendas apresentada pelo grupo Pão de Açúcar na semana passada mostra a diferença. A receita das vendas "mesmas lojas", unidades criadas há mais de um ano, do segmento GPA Alimentar, apresentou crescimento de 6,4% no trimestre. Em termos reais, quando deflacionado pelo IPCA, as vendas tiveram um recuo de 0,2% no período.

Apesar da conjuntura difícil, o trimestre irá mostrar a continuação de uma melhora gradual, segundo os analistas. Existe uma recuperação, mas é menor que a expectativa. "Esperava-se números razoáveis no terceiro trimestre e isso não aconteceu. Havia também a expectativa de números fortes no último trimestre, que não vieram tão bons assim. Os resultados estão refletindo uma recuperação que existe, cuja velocidade é muito menor do que era esperado", afirma o analista Felipe Rocha, da corretora Omar Camargo.



Veículo: Valor Econômico


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