A partir de dados de produção e importação de bens de capital referentes ao primeiro bimestre, já disponíveis, economistas dão como certo que o investimento cresceu com força entre janeiro e março, após quatro trimestres seguidos de queda da Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF, medida das contas nacionais do que se investe em máquinas e construção civil), interrompidos apenas pelo fraco avanço de 0,5% no fim de 2012.
Há a percepção, porém, de que essa variação significativa - que chega a 9% em algumas projeções preliminares - será um ponto fora da curva, já que foi provocada por questões temporárias, com destaque para a volta ao normal da produção de caminhões e a concentração dos efeitos de incentivos concedidos pelo governo desde meados do ano passado. Os analistas esperam que a formação bruta continue crescendo ao longo do ano, mas em ritmo bem mais modesto.
Sócio e economista da JGP Gestão de Recursos, Fernando Rocha avalia que o bom desempenho projetado para o investimento no primeiro trimestre -nas estimativas preliminares feitas por ele, a formação bruta subiu 4,8% sobre os últimos três meses de 2012, feito o ajuste sazonal - é resultado de projetos adiados ao longo do ano passado que, com os estímulos do governo e perspectivas melhores para a economia, foram tirados do papel agora.
Portanto, diz Rocha, não esperado que essa alta expressiva também seja vista nos próximos trimestres.
Os desembolsos do Finame - linha do BNDES voltada para a compra de máquinas, equipamentos e veículos pesados, que desde setembro passado conta com juros reais negativos - subiram 74% de janeiro a março sobre igual período do ano passado e chegaram a R$ 16,3 bilhões. Além do corte de juros, o governo reduziu até dezembro a depreciação acelerada para bens de capital de dez para cinco anos, o que resulta em queda no imposto de renda recolhido pela empresa.
"Essas medidas funcionam como o IPI reduzido para automóveis", diz o economista da JGP. "Em um primeiro momento, há uma resposta muito forte, mas depois a demanda se acomoda em patamares mais baixos. " Além dessa antecipação de consumo, Rocha menciona a influência dos caminhões sobre a produção de bens de capital, que também deve ficar concentrada no primeiro trimestre. Em igual período de 2012, lembra ele, as fábricas do setor ficaram paralisadas, devido à troca de motores para o sistema Euro 5, menos poluente, porém mais caro, que derrubou as vendas.
No primeiro bimestre, calcula Igor Velecico, do Bradesco, a produção de bens de capital aumentou 8,5% sobre o último trimestre de 2012 em termos dessazonalizados. Excluindo-se a parte de caminhões, a alta foi menor, mas ainda expressiva, de 5,9%. Em igual comparação, Velecico aponta que o volume importado de máquinas e equipamentos avançou 7%. Se o mês de março repetir o comportamento mais robusto de janeiro, diz ele, a formação bruta pode crescer 5% no primeiro trimestre. Com dados mais fracos, a expansão ficaria mais perto de 3%.
Segundo o economista, a safra agrícola maior antecipou compras de veículos pesados, movimento que não é sustentável para os próximos trimestres, mas o principal determinante para o repique esperado para o
investimento no começo do ano seria a conjunção de estímulos. Em sua visão, há uma dinâmica de recuperação da formação de capital físico em curso, mas esse movimento não é tão vigoroso como sugerem os números de janeiro a março. O Bradesco prevê aumento de 6,5% da FBCF em 2013.
Para Aurélio Bicalho, economista do Itaú Unibanco, a contribuição da parte de caminhões ao investimento no
primeiro trimestre será importante, já que, de acordo com dados da Anfavea (entidade que reúne as montadoras), e com ajuste sazonal feito por Bicalho, a produção do setor saltou mais de 26% sobre o trimestre anterior.
Também houve um impacto das taxas de juros mais baixas sobre as compras de máquinas, diz o economista, para quem a FBCF pode ter crescido 5% de janeiro a março em relação ao fim de 2012.
A influência desses "fatores específicos" sobre a formação de capital físico será menor daqui em diante, diz
Bicalho. Por isso, prevê que esse componente do Produto Interno Bruto (PIB) não manterá o ritmo do primeiro trimestre. "A redução das taxas de juros reais sugerem aumento maior do investimento, mas outros elementos, como o nível de confiança e a incerteza em relação ao cenário internacional, indicam que o ritmo tende a ser moderado", afirma.
Bráulio Borges, economista-chefe da LCA Consultores, também sustenta que a "montanha" de incentivos ao
investimento finalmente surtiu efeito, mas não terá impactos diluídos ao longo do ano. A alta estimada pela LCA de 9% da FBCF no primeiro bimestre sobre igual período do ano passado foi uma surpresa positiva, diz Borges, embora cerca de cinco pontos percentuais possam ter vindo somente de veículos pesados, que têm peso de 12% na formação de capital físico.
No primeiro trimestre, a expectativa preliminar da consultoria também é de aumento de 9% da formação bruta sobre os últimos três meses de 2012, feito o ajuste sazonal, variação que, de acordo com Borges, geraria um "carry over" de nove pontos para 2013. Como, no entanto, o economista-chefe da LCA espera que a FBCF recue no segundo trimestre, devido à elevada base de comparação do período anterior, preferiu manter em 7,4% a projeção para a alta acumulada da formação bruta no ano.
Além das questões pontuais que impulsionaram o investimento até março, e não estarão mais presentes no restante do ano, diz Ricardo Denadai, estrategista-chefe da Santander Asset Management, fatores importantes que determinam o ritmo da formação de capital físico não mostram evolução tão favorável, com destaque para a confiança da indústria. Medido pela Fundação Getulio Vargas (FGV), o Índice de Confiança da Indústria (ICI) ficou estável em janeiro, mas diminuiu em fevereiro e março.
A alta volatilidade dos indicadores econômicos, para Denadai, impede um aumento mais expressivo do otimismo do empresariado e segue como fator de contenção a uma reação mais forte da formação bruta de capital fixo no ano, para a qual prevê avanço de cerca de 3,5%. "Para ampliar sua capacidade produtiva, o empresário precisaria ver ao menos dois trimestres de crescimento mais saudável, próximo de 1%, do PIB", diz o economista.
Veículo: Valor Econômico