Inflação e endividamento vão reduzir participação da classe B no consumo

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Além de perder participação no total de compras, a classe B será praticamente o único estrato social que terá expansão de gastos com compras abaixo da média da população

Inflação em alta e endividamento elevado vão tirar neste ano o fôlego das compras da classe B, o estrato social mais importante no consumo das famílias do País. A participação de domicílios com renda média mensal entre R$ 3,7 mil e R$ 7,4 mil no bolo total dos gastos com produtos e serviços de R$ 2,8 trilhões projetado para este ano deve ser de 48,5%, aponta estudo da IPC Marketing, consultoria especializada em avaliar o potencial de consumo. Em 2012, essa fatia havia sido de 50%.

Além de perder participação no total de compras nos 5 mil municípios do País, a classe B será praticamente o único estrato social que vai ter uma expansão de gastos com compras abaixo da média da população brasileira. O consumo total deve crescer neste ano 9,9% em relação ao de 2012. Já o da classe B deve subir 6,6%, sem descontar a inflação.

O estudo foi feito com base em um modelo desenvolvido pela consultoria que leva em conta números dos censos e pesquisas do IBGE e fontes secundárias. O pano de fundo é a alta de 3% do PIB e inflação de 5,7%.

"A classe B neste ano está mais pobre do que em 2012 na sua capacidade de fazer novas compras, apesar de ter aumentado o número de domicílios urbanos nesse estrato social", afirma Marcos Pazzini, diretor do IPC Marketing e responsável pelo estudo. De 2012 para 2013, a classe B foi ampliada em um pouco mais de 300 mil domicílios.

Ele explica que, de um ano para outro, a classe B "exportou" domicílios para a classe A, que ampliou em 11,6% sua capacidade de consumo. Ao mesmo tempo, a classe B recebeu novas famílias, egressas da classe C. Elas ascenderam socialmente pela aquisição de bens, patrocinada pela abundância de crédito, mas sem ter renda compatível com essa capacidade de compra.

Isso ocorre porque o Critério Brasil, da Associação Brasileira das Empresas de Pesquisa (Abep) e adotado pelos institutos de pesquisas, leva em conta a posse de bens e o nível de escolaridade do chefe da família para estratificar socialmente os domicílios. Exemplo: as casas de classe B têm duas TVs, um carro e um banheiro. Na classe A, o número de TVs e de carros dobra e de banheiros triplica. Pazzini diz que criou uma estratificação social de renda média familiar correspondente à posse de bens para se ter uma ideia mais concreta do perfil dessa população.

Luz amarela. O descompasso entre a posse de bens da classe B e a renda faz acender a luz amarela. "Se a inflação disparar, teremos problemas para todos, mas principalmente para a classe B", diz Fábio Pina, assessor econômico da Fecomércio-SP.

Entre setembro de 2012 e março de 2013, cresceu de 36,2% para 47,3% a fatia de famílias endividadas com renda superior a 10 mínimos. Em igual período, o índice de famílias de renda menor endividadas caiu de 56,8% para 53,6%.


Risco de inadimplência já ronda a nova classe B


Com oferta de crédito ampliada por bancos e financeiras, famílias que ascenderam socialmente enfrentam dificuldades para pagar suas dívidas

A maior oferta de crédito, direcionada nos últimos meses por bancos e financeiras às famílias de maior renda para fugir do risco de inadimplência, pode afetar a capacidade de pagamento de classes mais abastadas, especialmente aquelas que ascenderam socialmente empurradas pelo crédito. Isso é o que mostram duas pesquisas diferentes para traçar o perfil dos endividados.

Entre setembro de 2012 e março deste ano, a proporção de famílias endividadas com renda superior a dez salários mínimos (R$ 6.780) que acreditam que não vão conseguir quitar os compromissos em dia aumentou de 1,9% para 2,2%, segundo a Fecomércio-SP. Nesse período, a fatia das famílias com renda inferior a dez mínimos nessa mesma condição caiu de 6,4% para 4,3%.

O aperto das classes mais ricas fica claro também no resultado de uma pesquisa encomendada à Serasa e ao Ibope pelo Instituto Geoc, que reúne as empresas de cobrança de dívidas atrasadas. Uma entre quatro famílias das classes A e B, que pagam suas dívidas em dia, informou que falta dinheiro no fim do mês. O resultado mais que dobra, vai a 51%, entre as famílias inadimplentes nesse estrato de renda.

"Nos últimos meses, os bancos melhoraram suas carteiras de crédito e colocaram foco nas famílias mais ricas", diz o assessor econômico da Fecomércio-SP, Fábio Pina. Por isso, na opinião dele, o endividamento e o risco de inadimplência aumentaram nesse estrato social, agravado agora com a inflação, que corrói renda de toda a população.

O avanço do crédito, misturado com a inadimplência ainda em níveis elevados, e agora com aumento da inflação, faz essa "nova classe B" adequar as dívidas ao orçamento mais apertado. Jair Lantaller, vice-presidente do Instituto Geoc e diretor da empresa Nova Quest, diz que 21% das dívidas renegociadas pela sua companhia no setor automotivo são do segundo carro da família. São prestações entre R$ 1 mil e R$ 1,5 mil, que correspondem a veículos cujo preço à vista supera R$ 50 mil.

Além de renegociar a dívida, outra alternativa da classe B para não ficar inadimplente é trocar o veículo mais caro, comprado a prazo, por outro mais barato. "Cerca de 3% da nossa clientela faz essa mudança. Esse nível é considerado normal", conta o diretor da concessionária GM Pallazzo, Wilson Goes. Ele diz, no entanto, que não sentiu aumento nesse tipo de operação.

Internet. Outro indicador que mostra que o consumo das famílias de maior renda deve recuar aparece na intenção de compras na internet, onde quase a metade ganha mais de R$ 4 mil. Em pesquisa do Provar com a empresa de informações do comércio eletrônico e-bit, 76,5% dos consumidores planejam ir às compras em lojas virtuais neste 2.º trimestre, 7,4 pontos porcentuais abaixo do primeiro trimestre e o menor resultado da série da pesquisa iniciada em 2007. Já no varejo tradicional, que abrange clientes de renda menor, o resultado ficou estável no período.



Veículo: O Estado de S.Paulo


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