A venda a prazo, normalmente de itens de maior valor, ficou estagnada na primeira quinzena deste mês, apesar do esforço do varejo para desovar os estoques de eletrodomésticos, TVs e telefones celulares por ocasião do Dia das Mães, a melhor data para o comércio depois do Natal. E uma parcela crescente de inadimplentes acumulava no mês passado dívidas não pagas superior a R$ 500.
Em abril, mais da metade dos consumidores inadimplentes (50,49%) tinha dívida acima de R$ 500. Em janeiro e fevereiro, essa fatia girava em torno de 30%, aponta um recorte do índice mensal de inadimplência apurado pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), com base no cadastro nacional de inadimplentes. O salto ocorreu em março, quando 47,52% dos inadimplentes deviam mais de R$ 500, e acentuou-se no mês passado.
"O consumidor está temporariamente parando de comprar a prazo", afirma o economista da Associação Comercial de São Paulo, Emílio Alfieri. Entre os dias 1.º e 15 deste mês, as consultas para compras financiadas caíram 0,3% na comparação com igual período de 2012, considerando o mesmo número de dias úteis. Ele destaca que o consumidor está cauteloso para não ampliar ainda mais o endividamento, que cresceu rapidamente nos últimos meses.
Segundo a economista do SPC Brasil, Ana Paula Bastos, o avanço da parcela de consumidores inadimplentes com dívida superior a R$ 500 ocorreu por causa do acúmulo das compras de fim de ano combinado aos gastos de início de ano com impostos. Além disso, houve uma forte expansão da oferta de crédito. "A nossa pesquisa mostra que o inadimplente chega a ter várias pendências com dívidas, por exemplo em seis cartões de crédito." Na avaliação de Ana Paula, a situação se agravou por causa da falta de educação financeira do brasileiro, que antes de contrair um empréstimo verifica apenas se a prestação cabe no salário.
Freada
A freada no consumo a prazo provocou queda na inadimplência, que recuou 3,6% na 1.ª quinzena deste mês na comparação anual, segundo a ACSP. Paralelamente, houve retração nas renegociações de dívidas, de 12,2% em igual período. A pesquisa da entidade mostra que as compras neste mês foram concentradas em itens de menor valor e pagas à vista. Tanto é que as consultas para vendas com cheque cresceram 8,3% na 1.ª quinzena de maio.
Segundo Ana Paula, do SPC Brasil, o aumento da parcela de inadimplentes com dívidas maiores é transitório e deve se normalizar nos próximos meses. O dado da pesquisa que surpreendeu a economista foi o fato de 25% dos inadimplentes terem mais de 65 anos de idade. Essa foi a faixa etária que concentrou o calote em abril.
Veículo: O Estado de S.Paulo