O comércio já avalia que será inevitável o repasse de preços dos produtos para os consumidores caso o dólar ultrapasse o patamar de R$ 2,15.
A variação do dólar chegou a alcançar 5,76% nos últimos 30 dias e há expectativa que este percentual aumente.
Redes varejistas e associações que representam o segmento acreditam que o impacto não deve vir agora. Também acreditam que variação cambial possa ser passageira. Mas há a preocupação de que, caso isso não ocorra, o repasse acontecerá.
"Ainda é cedo para ver uma mudança do que ocorre hoje. Depois do mês de julho, eu acredito que possa começar a ocorrer alguma mudança nos preços", disse o gerente geral do Armarinhos Fernando, Ondamar Ferreira.
Ontem, o dólar no balcão fechou a R$ 2,13, após o Banco Central intervir com uma venda de US$ 1,3 bilhão no mercado futuro da moeda, no movimento conhecido como swap cambial.
Para o empresário Pedro Joanir Zonta, dono da rede supermercados Condor, a preocupação é se esse patamar de câmbio ultrapassar os R$ 2,15. "Se for o patamar de R$ 2,20 aí com certeza terá de ser feito algum repasse", disse.
Mesmo com as recentes intervenções do Banco Central e do governo para conter a alta da moeda, ainda não se sabe qual será o novo teto da moeda.
Para o assessor econômico da Fecomercio Fábio Pina, a percepção que está se criando é que esse patamar de R$ 2,15 está vindo para ficar. "A tendência que está aparecendo é que esse valor parece se cristalizar", disse. "Se a percepção for se cristalizando em R$ 2,15, todo mundo vai compor estoque nesse valor, aí eu vou ter de embutir esse valor na minha composição de custos."
Ferreira, do Armarinhos Fernando, diz ter estoques até o fim de julho, e que terá de recompor somente ao fim desse período. Mesmo com o impacto, Ferreira avalia como positivo a desvalorização do câmbio. "Até a variedade, e nível de preço, vamos ter um mercado mais agressivo este ano", avaliou. Segundo ele, a meta da companhia é faturar 10% a mais no segundo semestre do que foi no mesmo período do ano passado, e com o repasse do preço, isso pode ser alcançado. "Eu acho que assim fica até fácil a gente trabalhar", apontou.
Zonta, da Rede Condor, por sua vez diz que trabalha com o estoque regulador e que os principais produtos importados já foram estocados com um nível de câmbio na faixa de R$ 2. Porém ressalta que produtos como vinhos e bacalhau, demandados para o fim do ano, ainda serão estocados e podem sofrer com a variação cambial.
Mesmo no caso das indústrias que trabalham com estoque regulador, caso o patamar do câmbio se mantenha nos próximos meses em R$ 2,15, o impacto será sentido. "Caso mantenha esse patamar, isso será visto daqui a quatro, cinco meses", disse o presidente da Associação Brasileira de Atacadistas e Distribuidores (Abad), José do Egito. Isso afetaria os preços dos produtos já para o Dia das Crianças, de acordo com Egito. "Se mantiver no patamar de R$ 2,15 por 90 dias aí as indústrias deverão rever tabela." O presidente da Abad diz porém que produtos ligados a commodities agrícolas já sentirão os efeitos
Novo patamar do câmbio
Para o assessor econômico da Fecomercio, a percepção de que o novo teto para a moeda estipulada pela autoridade monetária em R$ 2,15 só será confirmada nas próximas semanas. "Eu acho que mais duas semanas a gente pode entender qual é a movimentação do Banco Central e se vai se cristalizar ou não. Está se gerando a ideia de que esse é o novo patamar", disse Pina.
Para ele, caso se confirme esse patamar, a percepção que se terá que o real pode vir a se desvalorizar ainda mais. "Eu não preciso nem ter o estoque vazio, se a nossa percepção se cristalizar de que o câmbio é outro eu vou começar a recompor estoque", afirmou, ressaltando porém que o Banco Central não deixará que tal perspectiva exista.
Indústria eletrônica
Um dos setores mais sensíveis para o repasse de preços com a variação cambial, o produtos eletrônicos também podem sentir uma alta nos próximos meses.
Porém, para o presidente da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), Humberto Barbato, é preciso ter cuidado com qualquer repasse. "O setor eletrônico é muito sensível a cambio, mas é muito sensível também à disputa de mercado, o que acaba contrapondo", afirmou.
Barbato diz porém que por conta da alta concorrência do mercado, o repasse no setor eletrônico em razão da variação do câmbio é um pouco mais resistente. "Qualquer variação superior a 12% a 14% gera necessidade de repasse, antes disso o produtor sacrifica margem", avaliou.
Veículo: DCI