Preocupações do Copom

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A alta dos salários sem aumento de produtividade, a pressão dos preços de alimentos e bebidas e os efeitos da expectativa de inflação são os principais pontos de atenção do BC

A ata da última reunião do Conselho de Política Monetária (Copom), realizada nos dias 28 e 29 de maio, é clara: as autoridades econômicas precisam ficar “vigilantes” com a inflação, com atenção especial às expectativas, que, para os oito membros do conselho têm forte poder inflacionário. “Taxas de inflação elevadas geram distorções que levam a aumentos dos riscos e de primemos investimentos”, alerta o texto do Copom, acrescentando que “essas distorções se manifestam, por exemplo, no encurtamento dos horizontes de planejamento das famílias, empresas e governos, bem como na deterioração da confiança de empresários”.

Em vários pontos da ata, a inflação e seus possíveis impactos sobre o crescimento são destacados. Observações como “a inflação de serviços segue em níveis elevados e observam-se pressões no segmento de alimentos e bebidas” e “a projeção de inflação para 2013 elevou-se e encontra-se acima do valor central da meta para a inflação” pontuam essa preocupação ao longo do texto.

Para Alessandra Ribeiro, da Tendências Consultoria, a ata do Copom traz um discurso claramente mais duro com relação ao combate à inflação. “Ainda que não tenha se comprometido em trazer a inflação para o centro da meta, a ata ressalta que a política monetária deve se manter especialmente vigilante, a fim de minimizar os riscos de que os níveis elevados da inflação persistam no horizonte relevante para a política monetária”, avalia. “Nesta linha, devemos termais uma alta de juros de mesma magnitude em julho (0,5 p.p.), mas o documento deixa espaço para a continuidade do ajuste além de julho”.

Para a economista, o documento voltou a dar peso às expectativas de alta de preços, reconhecendo sua importância na inflação corrente, o que vinha sendo minimizado em documentos anteriores. Ela também chama a atenção para os efeitos nocivos sobre as decisões de consumo e investimentos. “Neste campo, a ata destacou que a inflação em 12 meses ainda apresenta tendência de alta e que o balanço de riscos para o cenário prospectivo segue desfavorável. Nesta linha, ressaltou que a política monetária deve se manter especialmente vigilante, a fimde minimizar os riscos de que os níveis elevados da inflação persistam no horizonte relevante para a política monetária”, observa.

O texto da ata do Copom não poderia ser mais claro: “O Copom reafirma sua visão de que cabe especificamente à política monetária manter- se especialmente vigilante, para garantir que pressões detectadas em horizontes mais curtos não se propaguem para horizontes mais longos.”

Alessandra Ribeiro diz que, em relação à atividade econômica, não houve alteração de avaliação, com o comitê destacando a tendência positiva para o investimento e consumo. “Sobre o cenário internacional, a avaliação também não se modificou, o texto ainda cita os elevados riscos para a estabilidade financeira derivados do processo de desalavancagem, mas acrescenta as evidências de maior volatilidade e de tendência de apreciação do dólar, conforme observado nas últimas semanas nos mercados globais”, diz.

A ata do Copom demonstra otimismo ao falar do crescimento do país: “Informações recentes indicam retomada dos investimentos e continuidade do crescimento do consumo das famílias, favorecido pelas transferências públicas e pelo vigor do mercado de trabalho – que se reflete em taxas de desemprego historicamente baixas e em crescimento dos salários”.

Entretanto, chama a atenção para os aumentos salariais dos últimos anos, destacando os riscos de seu descompasso com o nível de produtividade das empresas. Risco não só para o crescimento, como para a inflação: “O Copom destaca a estreita margem de ociosidade no mercado de trabalho e pondera que, em tais circunstâncias, um risco significativo reside na possibilidade de concessão de aumentos de salários incompatíveis com o crescimento da produtividade e suas repercussões negativas sobre a inflação. Não obstante sinais de moderação, o Comitê avalia que a dinâmica salarial permanece originando pressões inflacionárias de custos”.

Para não deixar dúvidas sobre os riscos que corremos, o Copom alerta: “Taxas de inflação elevadas subtraem o poder de compra de salários (...) com repercussões negativas sobre a confiança e o consumo das famílias”.

Aumentos salariais que não acompanham a produtividade impactam as empresas


A preocupação com o aumento dos sálarios acima da produtividade é vista por alguns economistas como uma ameaça para a inflação futura, pelo aumento de custos no setor de serviços, que sofre com a falta de mão de obra e com os valores pagos aos trabalhadores acima da su aprodução. “Devemos ter uma inflação acima da meta, por volta de 6,8% e7%.Isso significa um enorme aumento no salário mínimo, então o ano de 2014 já começará seriamente comprometido”, analisa o economista Tharcisio Souza Santos, diretor do FAAP-MBA.

Item constante nas últimas atas, o aumento salarial exagerado tem sua importância ampliada por conta do cenário de pleno emprego existente em muitos setores. Coma falta demão de obra, as empresas precisam pagar valores superiores para atrair um profissional já empregado em outra companhia.No entanto, a desaceleração na economia em muitos setores é vista como um elemento capaz de evitar o descontrole salarial temido. “Não há tanto espaço para aumentos superiores à produtividade. A economia está devagar, chegamos no limite. As empresas estão com dificuldade para pagar amais por serviços.O faturamento já parou de crescer, com isso os empresários dessas áreas vão parar de pagar salários maiores”, comenta o economista Alcides Leite, professor de economia da Trevisan Escola de Negócios.

Um ponto de consenso entre os economistas é a necessidade de trabalhar no fator produtividade, e não na redução dos salários. “O aumento é uma preocupação de muito tempo. O salário precisaria levar em consideração a produtividade, que o governo deve se preocupar em melhorar”, salienta Sergio Vale, da MB Associados.

A vez da batata-inglesa na conta da inflação

A batata-inglesa não chega a ser o novo “tomate da inflação”, mas já acumula alta de 60,42% no ano e de 123,48% em doze meses, de acordo com o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de abril, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O tomate, que ficou popular como “vilão” da inflação no final de 2012 e início de 2013, acumula no ano, segundo o IPCA, alta de 72,79% e em 12meses subiu 149,69%.

“Esses produtos são essenciais. A procura por eles é grande. Desde 2012 a área plantada está diminuindo como estratégia para melhorar os preços ao produtor. Além disso, problemas climáticos podem contribuir para novos aumentos”, afirma André Braz, economista do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getulio Vargas (FGV).

O Índice de Preços ao Produtor da FGV confirma a alta do produto: a batata-inglesa subiu 83,80% entre janeiro e maio de 2013 e, 176,93%, entre junho de 2012 e maio de 2013.



Veículo: Brasil Econômico


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