A inflação de alimentos interrompeu o ciclo de queda na relação entre o custo da cesta básica e o salário mínimo, que em 2007 alcançou o menor patamar em 35 anos. No ano passado, os trabalhadores da capital paulista que recebem salário mínimo comprometeram 57,68% de sua renda média com a aquisição da cesta básica. Em 2007, o nível médio ficou em 51,95%, de acordo com estudo divulgado ontem pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).
A perspectiva para 2009, no entanto, é de que os trabalhadores voltem a comprometer menos o salário para adquirir a cesta básica. A média das projeções de economistas aponta para uma inflação no varejo de alimentos próxima de 6% neste ano, tendo por base as perspectivas de menor volatilidade nos preços das commodities internacionais em função do quadro de desaquecimento da economia global. "Quanto menor a inflação, melhor para o trabalhador de baixa renda, que já compromete mais da metade da sua renda mensal com a cesta", afirmou o economista do Dieese e coordenador da pesquisa, José Maurício Soares. Outro fator positivo, disse, é o reajuste maior do salário mínimo, que neste ano ocorre em fevereiro e está projetado em aproximadamente 12% - índice formado pela variação do INPC em 12 meses (estimada em 6,4%) somada ao PIB de 2007 (5,7%). Em 2008, o reajuste, feito em março mas seguindo a mesma metodologia, foi de 9,2%, com ganho real de 4,7%.
De acordo com o levantamento, o aumento da cesta básica em 2008 superou a inflação do varejo em 15 das 16 capitais analisadas, com variação de até 29,31%. O Índice de Preços ao Consumidor (IPC) divulgado ontem pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e que compõe o Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna (IGP-DI) registrou alta de 6,07% em 2008. A inflação de alimentos no varejo atingiu 10,16% no período. Segundo o Dieese, em nove capitais avaliadas o custo dos alimentos essenciais registrou alta acumulada superior a 20% no ano.
Apenas em Belém a variação da cesta básica ficou abaixo da média da inflação, com alta de 4,76%, para o valor médio de R$ 199,05. A maior variação ocorreu em João Pessoa, onde o preço médio da cesta básica subiu 29,31% no ano, para R$ 200,55. A capital a apresentar a cesta mais cara no ano, no entanto, foi Porto Alegre, que ultrapassou Belo Horizonte e teve sua cesta valorizada em 19,7% no período, para média de R$ 254,86.
Soares observa que a diferença na composição da cesta contribuiu de forma decisiva para que tais discrepâncias de preços ocorressem. A cesta básica do Norte e do Nordeste, observou, não inclui batata e contempla 4,5 quilos de carne. No Sul, região que apresentou cestas mais caras, a cesta inclui batata e 6,6 quilos de carne e, no Sudeste e Centro-Oeste, 6 quilos de carne. "Se São Paulo tivesse a mesma quantidade de carne, provavelmente ia encabeçar a lista muito mais vezes", disse o economista.
Veículo: Valor Econômico