Fatia destinada ao país por investidores de renda fixa é a menor da história
Para especialistas, desaceleração da economia local e preocupação com EUA estimularam redução
CAROLINA MATOS ÉRICA FRAGA DE SÃO PAULO
Sinais mais fortes de retomada da economia americana e dúvidas sobre a recuperação brasileira têm levado investidores estrangeiros a tirar parte dos recursos aplicados no Brasil e transferi-la para outros países emergentes.
O percentual de investimento que o Brasil recebe de fundos de renda fixa voltados a esses mercados chegou ao menor nível histórico no fim de abril, ficando abaixo de 10% pela primeira vez. Os dados são da consultoria EPFR.
O mau humor de investidores com o Brasil teve mais reflexos ontem. O Banco Central colocou US$ 4,5 bilhões no mercado para frear a queda do real e a Votorantim Cimentos desistiu do plano de lançar ações na Bolsa.
O Brasil tem sofrido mais que outros emergentes com a fuga de recursos, embora a perspectiva de recuperação dos EUA esteja favorecendo a venda generalizada de ativos desses mercados.
A desvalorização de 19,5% da Bolsa brasileira em 2013 supera a queda registrada pelos mercados da China, do México e da Turquia.
Apesar de pequena recuperação recente, a fatia de fundos de ações de países emergentes investida no Brasil está em 12,5%, menos que a média de 14,9% registrada entre o início de 2006 e meados de 2012, segundo a EPFR.
Roberto Padovani, economista-chefe da Votorantim Corretora, diz que o baixo crescimento do Brasil em 2011 e 2012 afugentou estrangeiros de maneira mais intensa que em outros emergentes.
"Essa perda relativa de interesse foi reforçada recentemente pela perspectiva de que a política monetária dos EUA possa mudar de maneira rápida", afirma.
Juros mais altos elevariam a atratividade de aplicações em renda fixa americana.
POLÍTICA FISCAL
Michael Gomez, diretor da Pimco, uma das maiores gestoras de recursos do mundo, diz que a recente retirada do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) sobre investimentos estrangeiros em renda fixa foi um sinal positivo.
Mas, segundo ele, o mercado espera que o governo reduza gastos, contribuindo para o combate à inflação.
O principal fundo da Pimco dedicado a investimentos de renda fixa em países emergentes reduziu a parcela de recursos aplicados no Brasil de 12,1% no fim de 2010 para 6,8% em março de 2013.
Gomez ressalta, no entanto, que o país permanece oferecendo retornos elevados aos investidores.
"O Brasil continua sendo uma parte importante dos nossos investimentos."
Veículo: Folha de S.Paulo