A condução expansionista da política fiscal pelo governo tira parte significativa do esforço que o Banco Central (BC) tem feito para reduzir o ímpeto da demanda agregada via elevação da taxa básica de juro (Selic), concordaram na última sexta-feira economistas que protagonizaram um debate sobre a economia do País no encerramento do evento Brasil Hospitality Investment Conference, organizado em São Paulo pela Questex Hospitality Group, empresa dos Estados Unidos que atua no setor de investimentos em hotelaria e comunicação.
Após elogiar a combinação da elevação da magnitude da Selic com a desvalorização do real, nos últimos dias, o economista e sócio da Tendências Consultoria, Juan Jensen, disse que uma das maiores dificuldades da economia do Brasil é a gestão da política fiscal. Jensen lembrou que, dias após o BC ter elevado em 0,5 ponto percentual a taxa de juros, a presidente Dilma Rousseff anuncia mais uma linha de crédito para estimular o consumo. Ele referiu-se à abertura de uma linha de financiamento para que proprietários de imóveis dentro do Programa Minha Casa, Minha Vida possam comprar móveis e eletroeletrônicos.
"Agora, o BC está combatendo a inflação com aumento de juros. Ou seja, está promovendo uma correção de rumos tanto via política monetária como cambial. O problema é a condução da política fiscal. Basta ver o modelo adotado pela presidente Dilma para móveis da Minha Casa, Minha Vida", criticou, acrescentando que medidas desta natureza é que introduzem volatilidade no Produto Interno Bruto (PIB).
"De maneira geral, a gente concorda em vários pontos. Havia um grau de preocupação com a condução da política monetária nos últimos anos e isso parece ter acabado há duas semanas com o BC elevando a magnitude de alta da taxa de juros. Mas temos uma posição mais cética quanto à convicção deste governo", disse o economista-chefe do Espírito Santo Investment Bank (Besi Brasil), Jankel Santos.
Se falta convicção a Santos, o economista-chefe do Votorantim Wealth Management Services (WM&S), Fernando Fix, disse que a visão da instituição não é tão pessimista porque, além da mudança nas políticas monetária e cambial, que apontam para um rumo um pouco melhor, na política fiscal é possível que o governo comece a criar um ambiente melhor para a próxima gestão. "O próximo presidente, eleito ou reeleito, deverá encontrar um ambiente fiscal um pouco melhor que o atual", disse.
Sobre o comportamento do câmbio, Fix, da WM&S, concorda que parte da valorização cambial possa estar atrelada às sinalizações de retomada da economia dos EUA, que poderá levar o país cortar estímulos à economia, mas avalia também que uma atividade que não cresce reduz a capacidade de atração de investimentos estrangeiros.
Veículo: DCI