Cinco dias depois de afirmar que não estudava novas medidas para o mercado de câmbio, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciou que o governo eliminará, a partir de hoje, uma trava que pode reduzir a cotação da moeda americana.
Em entrevista convocada de última hora no início da noite, Mantega informou que o governo não vai mais cobrar 1% de Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) sobre os chamados derivativos de câmbio-instrumentos usados por investidores para especular sobre a cotação da moeda. A retirada do imposto vale para quem aposta na queda do dólar. O IOF nessas operações foi adotado pelo governo em julho de 2011 para evitar que o real ficasse muito forte, o que encarece produtos nacionais lá fora.
Foi o segundo anúncio de medida cambial em menos de dez dias, indo em direção contrária ao que o próprio ministro defende publicamente: um dólar forte para ajudar a indústria brasileira a exportar seus produtos, Na semana passada, Mantega retirou os 6% de IOF que eram cobrados de estrangeiros que investiam em títulos públicos brasileiros. Na sexta-feira, o ministro concedeu entrevista ao Estado e foi taxativo ao dizer que o governo não estudava novas medidas. Quando impôs o IOF nas operações, Mantega classificou de "especulação" os fluxos de dólares atrelados a elas. "Agora, o cenário mudou. Estamos tendo, ao invés de desvalorização, valorização (do dólar). Não faz sentido manter o empecilho", disse o ministro da Fazenda. Com isso, haverá oferta maior de dólar no mercado futuro, com diminuição da desvalorização do real" A retirada do IOF sobre títulos públicos, no entanto, não surtiu o efeito desejado. Ontem, a moeda americana fechou a R$ 2,15 -maior cotação nos últimos quatro anos. Quando o real perde valor frente ao dólar, ocorre pressão inflacionária, já que a indústria importa insumos.
A colocação do IOF em operações do mercado de câmbio foi anunciada em 2011, quando houve uma forte entrada de dólares no Brasil e as apostas no mercado futuro de derivativos eram de queda do dólar. Entre medidas tomadas nos últimos anos para controle do fluxo de capital no Brasil, resta a aplicação de 6% de IOF sobre empréstimos no exterior captados por empresas brasileiras com prazo de até 360 dias.
Atuação. Além das medidas anunciadas por Mantega nos últimos dez dias, o Banco Central também tem oferecido, nos últimos dias, contratos que eqüivalem à venda de dólares nomer-! cado futuro para conter a moeda americana.
Gomo o aumento do dólar encarece os importados, pressionando a inflação, o governo tem atuado para evitar uma sobrecarga da taxa de juros. Desde abril, o BC vem elevando a taxa básica de juros para reduzir os índices de preços, que pressionam o teto da meta oficial do governo.
"O comportamento da inflação é normal, como em outros anos quando tivemos choque de oferta. A inflação de alimentos está superada", disse Mantega. O grosso da inflação está caindo e o conjunto da inflação
está caindo."
Para tentar recuperara credibilidade da política fiscal, Mantega repetiu ontem que o governo vai economizar o equivalente a 2,3% do Produto Interno Bruto (PIB) e cumprir a meta fiscal prevista no Orçamento para pagamento de juros da dívida. "Caso a gente perceba que a meta não será alcançada, faremos novos ajustes de despesa."
Veículo: O Estado de S.Paulo