Depois do alívio em maio, preços de alimentos têm reajuste maior e pesam na prévia de índice de preço semanal de junho. Safra pode atenuar altas no segundo semestre
A vendedora Valdenia Bretas trocou marcas de produtos e mesmo assim gastos com comida subiram
Além de tentar segurar a cotação do dólar, o Banco Central tem outro motivo para se preocupar. Os alimentos voltaram a pressionar o custo de vida na primeira prévia da inflação de junho. O grupo registrou a principal contribuição da alta para 0,48% no Índice de Preços ao Consumidor – Semanal (IPC-S), medido pela Fundação Getulio Vargas (FGV). O resultado da inflação apurada na primeira semana de junho é 0,16 ponto percentual superior à taxa registrada em maio. Seis das oito classes das despesa presentes no índice cresceram em relação ao período anterior.
Liderando a alta, o preço dos alimentos aceleraram de 0,36% (maio) para 0,65% (em junho), com destaque para os laticínios, cuja taxa cresceu de 2,25% para 2,38%, entre maio e junho. O preço pago ao produtor pelo litro de leite, que ultrapassou a marca de R$ 1 em abril, registrou forte alta também para o consumidor. O do longa vida acelerou de 0,59% para 0,89%.
Também tiveram seus preços reajustados para cima o mamão papaya, que passou de 20,44% para 30,13% e as refeições fora de casa, em bares e restaurantes que encareceram em junho (0,57% para 0,64%).
Para tentar domar o dragão, a assistente social Altiney da Silva Gomes diz que passou a frequentar supermercados longe de sua cassa para “garimpar” preços melhores. Os R$ 200 que costuma gastar com alimentos não conseguem mais bancar sua cesta. Recentemente ela deixou de comprar alguns produtos básicos, como o feijão, e diz que sentiu de maneira muito forte o reajuste do leite, já que em sua família o consumo é de pelo menos um litro por dia. “No início do ano o litro custava cerca de R$ 1,60, agora já cheguei a pagar R$ 2,82”, comentou.
No ano, a inflação acumulada até maio é de 2,93% e o resultado em 12 meses, de junho de 2012 a maio de 2013, alcançou 5,96%. Na primeira prévia de junho, em relação a maio, foram registradas altas também em habitação (0,39% para 0,59%), transportes (queda de 0,19% para alta de 0,01%), vestuário (alta de 0,91% para aumento de 1,12%), educação, leitura e recreação (0,28% para 0,35%) e comunicação (0,10% para 0,27%).
Sentindo no bolso a pressão do custo de vida, a classe média brasileira já começou a mudar seus hábitos nos supermercados em busca de aliviar a fatura. A vendedora e dona de casa Valdenia Bretas, diz que já trocou as marcas de diversos produtos, optando pelos preços mais baratos. Entre janeiro e junho, de produtos da cesta básica ao sacolão, ela calcula que já esteja gastando cerca de R$ 100 a mais com alimentos.
Expectativa
O coordenador do curso de economia da Newton Paiva, Adriano Porto, acredita que repiques de preços de produtos alimentícios determinados podem ocorrer até o fim do ano, mas que o índice deve ser beneficiado pela boa safra brasileira, sofrendo pressões fortes no segundo semestre apenas se houver fatores internacionais. O coordenador da assessoria técnica da Federação da Agricultura de Minas Gerais (Faemg), Pierre Vilela, aponta que os sinais indicam uma boa safra vindo aí, também no Hemisfério Norte. “Os alimentos não são responsáveis pela inflação, que é mais pressionada pelos serviços”, diz o especialista que aposta que o índice anual não deve ser menor que 6%.
Aliviaram a inflação medida pela FGV em junho, os grupos: saúde e cuidados pessoais (0,72% para 0,60%) e despesas diversas (0,20% para 0,01%). Nessas classes de gasto, os destaques partiram dos itens: medicamentos em geral (1,16% para 0,54%) e serviço religioso e funerário (0,26% para -0,71%). O índice calculado pela FGV tem como base preços coletados entre os dias 08 de maio de 2013 e 07 de junho de 2013, comparados aos coletados entre 08 de abril de 2013 e 07 de maio de 2013.
Descrença
Com o desempenho mais negativo da economia do Brasil nos últimos dias e a inflação mostrando resistência, analistas do mercado financeiro promoveram um rearranjo das previsões para os indicadores de 2013 e 2014. A estimativa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) caiu para 2,53% e 3,2%, respectivamente. Há uma semana, os analistas esperavam 2,77% e 3,4%. Depois que o Banco Central (BC) escancarou as preocupações com a resistência da inflação a curto prazo, economistas entenderam que a autoridade monetária manterá a trajetória de alta da Selic. Por isso, elevaram as projeções para a taxa ao fim de 2013 para 8,75% ao ano.
Veículo: Estado de Minas