No primeiro trimestre do ano, consumo subiu 2,5%, puxado especialmente pelo consumo residencial, de 6,6%
A tarifa caiu e o gasto das famílias com eletricidade subiu. O consumo de energia já vinha sendo impulsionado pelo aumento de eletrodomésticos nos lares brasileiros, por causa do crescimento da renda e da redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) da linha branca pelo governo. Com o corte nas tarifas, a demanda teve mais um incentivo.
O aumento do consumo empurrou a indústria de energia - geração, transmissão e distribuição -, a única a crescer de janeiro a março, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Este segmento industrial (que inclui, na rubrica da pesquisa, também gás e água) avançou 2,6% na comparação do primeiro trimestre deste ano com igual período de 2012.
"O peso da eletricidade no grupo de produção e distribuição de eletricidade, gás e água é de 70%. Mas, no primeiro trimestre, é possível afirmar que foi ele, de longe, o responsável pelo avanço de 2,6% do segmento", ressaltou a gerente de Contas Nacionais Trimestrais do IBGE, Rebeca Palis.
Todos os outros segmentos industriais (extrativa mineral, construção civil e transformação) apresentaram taxas negativas e a alta isolada do setor não foi suficiente para frear a queda de 1,4% da indústria geral no período.
No cálculo do PIB da indústria de energia, o instituto usa como fonte primária as estatísticas de consumo produzidas pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE), que apontaram crescimento geral de 2,5% no primeiro trimestre do ano, ante igual período de 2012 - alta puxada pelo consumo residencial (6,6%). "A expansão está associada ao aumento da posse de equipamentos eletrodomésticos e ao seu maior uso", informou a EPE, em seu boletim mensal.
Hábitos. Embora a população não esteja adquirindo bens duráveis na mesma intensidade do ano passado, alguns hábitos que elevam o consumo de energia foram incorporados, após a redução da tarifa, como mostra estudo do Data Popular, instituto especializado em pesquisas de mercado nas classes C, D e E.
E mesmo que futuras revisões tarifárias, influenciadas pelo acionamento de usinas térmicas por causa da seca do ano passado, venham a reduzir o desconto na conta de luz anunciado pelo governo, os preços recuaram fortemente no início do ano. No acumulado de janeiro a maio, o custo da energia consumida nos lares brasileiros registrou deflação de 18,86%, no IGP-DI, calculado pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
"Com a queda de preço, a tendência é haver aumento do consumo de luz. Pode ser que o efeito não seja tão imediato, mas ele vem", diz o superintendente adjunto de Inflação do Ibre/FGV, Salomão Quadros.
Segundo Renato Meirelles, presidente do Data Popular, as principais companhias de distribuição de energia encomendaram pesquisas sobre os impactos da redução das tarifas. "O consumidor entendeu que a redução foi boa para o bolso dele e relaxou um pouco no consumo", comentou.
Outro dado das pesquisas é que o consumidor não está aproveitando a redução na conta de luz para economizar. Nas palavras de Meirelles, o principal efeito foi melhorar a "qualidade de vida", o que significa tomar banho quente mais longo - o principal método de aquecimento da água no País é o chuveiro elétrico - e acumular menos roupa para lavar na máquina.
Produção e transmissão. A indústria de produção e transporte de eletricidade também já responde à expansão do consumo. No primeiro trimestre, ela foi uma das que puxou a alta de 9,8% na produção industrial da categoria de uso bens de capital frente a igual período de 2012.
A avaliação do gerente da coordenação de Indústria do IBGE, André Macedo, é que o aumento do consumo de energia elétrica, que está favorecendo toda a indústria deste segmento, reflete o "boom" dos eletrodomésticos de 2012. No primeiro quadrimestre deste ano, porém, o cenário mudou, com queda de 2,5% na produção.
Para os próximos meses, o quadro é incerto. "A expectativa é que o aumento do consumo da eletricidade tenha um limite, determinado pela atividade econômica e pelo comprometimento da renda das famílias", alerta Jorge Trinkenreich, diretor da consultoria especializada em energia PSR.
Para a companhia de eletricidade CPFL, que atua no Estado de São Paulo, a perspectiva de longo prazo é positiva. Ao apresentar seus resultados do primeiro trimestre, a distribuidora mostrou dados sobre a posse de eletrodomésticos no Brasil. Hoje, são 22 aparelhos de ar condicionado por 100 domicílios. A perspectiva, no entanto, é que até 2021 este número alcance 28 equipamentos.
No caso das máquinas de lavar, hoje são 65 para cada 100 domicílios. A da companhia é chegar a 75 nos próximos oito anos.
Veículo: O Estado de S.Paulo