A compra de ações no cenário atual de forte queda da Bovespa pode ter cara de bom negócio - já que o desembolso tende a ser menor - mas ainda assim é preciso cuidado. A imprevisibilidade dos ciclos ajuda a elevar o risco do mercado acionário. Também não dá para esquecer que a Bolsa é um investimento destinado para o longo prazo.
Neste ano, o Índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Ibovespa) - o principal termômetro do mercado acionário brasileiro - já acumula queda de 19,06%. Somente na semana passada o tombo foi de 4,43%.
As ações no Brasil, assim como no resto do mundo, caíram em função do cenário externo, puxadas principalmente por um contexto de crise global: desaceleração do crescimento chinês e sinalização de retirada dos estímulos à economia norte-americana pelo Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos).
O movimento atual é de deslocação de ativos, com investidores estrangeiros realocando seus recursos. O cenário interno também não ajuda: o Brasil enfrenta baixo crescimento econômico, inflação em alta, câmbio desvalorizado e política econômica conturbada, sobretudo na visão dos investidores internacionais.
"O mercado está exagerado, em um nível de volatilidade bastante fora do normal", afirma Rossano Foresti Oltramari, sócio da XP Investimentos. Mas ele acredita que a situação é passageira e que a tendência já é de reabilitação.
Isso significa que é um bom momento para investir? Depende do perfil. Se o investidor for mais agressivo, com maior apetite para o risco, este pode ser um momento único. Mas, se o aplicador é mais conservador, a dica é esperar um pouco mais, pois, segundo Oltramari, o curto prazo ainda será marcado pela volatilidade.
Na avaliação do economista da Fundação Instituto de Administração (FIA) Ricardo Humberto Rocha, para ter certeza é preciso aguardar a próxima safra de balanços das empresas listadas na Bolsa ou a volta do investidor estrangeiro.
Mesmo para aqueles que aceitam correr o risco, é necessário ter cautela. O analista da Gradual Investimentos Flávio Conde sugere dividir a compra das ações ao longo da semana como estratégia para driblar as incertezas do mercado.
"Quem pensa em investir deve aplicar um dinheiro que não vai fazer falta no momento, porque pode dar errado", alerta. Ele aponta que o cenário é propício para os jovens que não precisam de um retorno imediato. "Para quem quer poupar pensando na aposentadoria, por exemplo, é um bom momento".
Há, no entanto, quem não concorde que o momento é o mais propício para começar. Na opinião de César Caselani, professor da Escola de Administração de Empresas de São Paulo, da Fundação Getulio Vargas (FGV-EAESP), não há atualmente um indicador que sinalize um disparo das ações das principais empresas brasileiras. "Na área de commodities, por exemplo, a China, grande parceiro comercial do Brasil, está comprando menos. Além disso, a instabilidade do mercado internacional, que ainda sofre com desdobramentos da crise de 2008, faz com que os negócios nacionais que dependem das exportações vendam menos", argumenta.
Apostas. Cada corretora costuma ter a sua cesta de apostas. De modo geral, fica difícil avaliar quais as melhores opções. O professor da Escola de Economia de São Paulo, da Fundação Getúlio Vargas (EESP-FGV) Clemens Nunes ressalta que o melhor é combinar empresas que tenham pouca expansão da dívida em dólar, baixo nível de endividamento e operações resistentes a ciclos econômicos, ou seja, com boa performance nos bons e maus momentos.
Veículo: O Estado de S. Paulo