Em 14 dias, foram 8 medidas para conter moeda; para analistas, mercado testa novo teto
Incerteza sobre a permanência de estímulos nos EUA permanece como fator de pressão do dólar
ANDERSON FIGO COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
O Banco Central atuou mais uma vez no mercado de câmbio ontem para conter a alta do dólar, que chegava à cotação de R$ 2,178. Ainda assim, a moeda bateu um novo recorde e terminou o dia no maior valor em mais de quatro anos: R$ 2,161.
O BC fez um leilão de swap cambial, que equivale à venda de dólares no mercado futuro, por volta de 16h30. Foi a sexta intervenção em pouco mais de dez dias.
Nesse período, a autoridade monetária também zerou as alíquotas de IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) para investimentos estrangeiros em renda fixa e sobre operações com derivativos de câmbio --contratos de dólar com vencimento futuro.
Ou seja, foram oito intervenções desde o último dia 4: todas medidas tomadas com intenção de empurrar o preço do dólar para baixo (veja quadro).
Desde o dia 4, porém --quando essa sequência de intervenções começou--, até ontem, a moeda americana subiu 0,7%.
"O mercado forçou a moeda para cima porque precisa de uma referência, quer saber em que preço do dólar o BC vai atuar. Na semana passada era R$ 2,15, hoje é mais que isso", diz Hideaki Ilha, operador da Fair Corretora.
Na avaliação de Ilha, as operações que apostam na alta da moeda americana devem continuar até que os investidores consigam vislumbrar esse novo patamar.
EUA
Ainda de acordo com analistas ouvidos pela Folha, a tendência do dólar é subir em relação a outras moedas, especialmente as de países emergentes, enquanto durarem as incertezas sobre a permanência dos estímulos econômicos nos EUA.
Amanhã, sai decisão do Fed (BC norte-americano) sobre a taxa de juros do país, que é hoje praticamente zero, e o presidente da instituição, Ben Bernanke, fará um novo pronunciamento.
Embora investidores não apostem em mudança imediata dos juros, esperam encontrar, na fala de Bernanke, sinais mais claros sobre a manutenção ou não dos estímulos monetários no país. O BC dos EUA recompra, mensalmente, US$ 85 bilhões em títulos públicos a fim de injetar recursos na economia.
Se o discurso de Bernanke reforçar no mercado as apostas na retirada dos estímulos, porém, a tendência de alta do dólar pode se intensificar.
Isso porque o segundo passo, na avaliação de especialistas, seria a elevação do juro americano, o que deixaria os títulos do Tesouro dos EUA, remunerados pela taxa e considerados de baixo risco, mais atraentes aos investidores globais do que aplicações em emergentes.
"Um possível corte dos estímulos econômicos nos EUA reduziria o volume de dólares no mercado mundial. Isso também diminuiria a já fragilizada entrada da moeda americana no Brasil, pressionando a cotação do dólar para cima", diz Waldir Kiel, operador da H.Commcor.
Veículo: Folha de S. Paulo