Por Marta Watanabe | De São Paulo
Embora tenham perdido ritmo, as importações brasileiras com origem China ainda crescem acima da média. Isso mostra que os produtos do país asiático avançam no mercado doméstico. As exportações brasileiras, porém, cresceram menos que as importações totais da China. Com isso, as trocas com a China, o maior parceiro comercial do Brasil, contribuem menos para melhorar o resultado comercial brasileiro. Especialistas avaliam que esse movimento vai prosseguir até o fim do ano.
Segundo dados compilados pela Organização Mundial de Comércio (OMC), a importação total da China de janeiro a maio cresceu 8,2% contra iguais meses do ano passado. As exportações brasileiras para o país asiático, porém, cresceram menos, com alta de 4,9% no mesmo período. Na mesma comparação, as importações brasileiras com origem China aumentaram em 8,3%, enquanto os desembarques totais tiveram elevação de 7,7%. O superávit comercial do Brasil nas trocas com os chineses caiu de US$ 3,8 bilhões, de janeiro a maio de 2012, para US$ 3,5 bilhões nos mesmos meses deste ano. Os dados do comércio brasileiro são do Ministério do Desenvolvimento.
Fabio Silveira, diretor de pesquisa econômica da Go Associados, diz que a pauta brasileira de exportação para a China explica parte do descompasso. "A exportação é concentrada em commodities, que são os primeiros produtos a sentir no preço a queda da demanda internacional e, neste momento, a fuga de dólares aos EUA", diz ele, referindo-se à expectativa de mudança no programa americano de estímulo ao crescimento.
"A sobra de liquidez, que até pouco mais de um ano estava direcionada para as commodities, agora está migrando para os títulos americanos", diz Silveira. O efeito, explica, é a valorização do dólar no mercado internacional e a queda do preço das commodities. Os três produtos mais importantes que o Brasil vende para os chineses são soja, minério de ferro e petróleo. Juntos o embarque dos três itens para a China somou de janeiro a maio US$ 15,3 bilhões, o que significa 85% da exportação brasileira para o país asiático.
O mesmo não acontece com as compras brasileiras da China. Entre os produtos adquiridos do país asiático predominam os bens manufaturados. Entre os dez produtos que o Brasil mais vende para os chineses estão material elétrico - como partes de aparelhos de telefonia e televisores -, circuitos integrados, fornos industriais, guindastes e tecidos. Os valores dos dez produtos mais importados da China nos primeiros cinco meses do ano somaram US$ 4,2 bilhões, o que representa 29% do total da importação brasileira com origem no país asiático. Se considerarmos os três principais produtos - celulares, partes de televisão e partes de máquinas -, a fatia é de 16%.
"Nós importamos da China o fio e o tecido, o componente e o bem de capital acabado", diz Silveira, sobre a diversificação dos bens. Com pauta de exportação muito mais variada e rica em manufaturados, avalia, os chineses sentem menos a volatilidade do mercado internacional e do câmbio.
"O problema é o possível agravamento do quadro até o fim do ano", diz José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB). Segundo ele, até agosto, o Brasil deve exportar para a China toda a safra de soja para o ano. No segundo semestre, portanto, cessa a contribuição do grão para o resultado comercial das trocas com os chineses e os embarques brasileiros ficarão mais dependentes do desempenho do minério de ferro.
Castro lembra que na última semana o minério chegou a ser vendido por US$ 110 a tonelada no mercado à vista da China. "Esse preço CIF - que inclui seguro e frete - equivale a US$ 90 a tonelada para embarque no Brasil, que é um preço baixo." Se houver essa queda de preço, é possível que o quadro da exportação piore, já que os volumes vendidos de minério estão até agora com evolução negativa.
De janeiro a maio, o volume de venda de minério para os chineses caiu 6% contra mesmo período de 2012. Mas o comportamento do preço compensou essa queda, fazendo a exportação do minério para o país asiático avançar 1,5% no mesmo período.
O petróleo, porém, pode amenizar a situação no segundo semestre. De janeiro a maio, a exportação do óleo para a China somou US$ 1,32 bilhão, o que representa uma queda de 35,6% contra iguais meses de 2012.
Com a retomada de parte da produção doméstica, diz Silveira, deverá haver recuperação em relação ao primeiro semestre, como também na comparação com o segundo semestre do ano passado. "Mas será uma melhora modesta e relativa, nada espetacular. Amenizará a queda da exportação para a China, mas não irá virar o jogo."
Mesmo que não se agrave muito, o quadro de perda de superávit nas trocas com a China não deve mudar este ano, diz Castro. Os preços das commodities não mostram sinais de que irão se recuperar. Para ele, a importação pode amenizar a queda de superávit. "Um consumo das famílias mais fraco no mercado doméstico, aliado à alta de juros, pode resultar em perda de ritmo nas importações."
Silvio Campos Neto, economista da Tendências, tem opinião semelhante. Para ele, a desvalorização do real também pode contribuir para reduzir o ritmo das importações. "Isso pode atenuar a expansão das importações, já que o atual patamar de câmbio torna mais caros não só os bens de menor valor agregado como também os intermediários e os bens de capital." Num horizonte de mais longo prazo, porém, destaca o economista, a tendência é que o custo desse novo patamar de câmbio, se mantido no nível atual, seja absorvido.
Veículo: Valor Econômico