Alta dos preços reflete nas contas domésticas e demanda por crédito perde fôlego no ano. Estimativa do PIB recua
Brasília – A economia do país não pode mais contar com o consumo das famílias para crescer. Todos os indicadores têm confirmado o arrocho provocado pela inflação nas contas domésticas. Ontem, a Serasa Experian indicou a desacelaração da demanda por crédito, reflexo do freio na aquisição de bens e serviços: o aumento de 8,7% acumulado em 2013 até abril despencou para 6,4% em maio e caiu para 6,1% no mês passado.
Atento ao endividamento recorde dos brasileiros e às improváveis chances de melhora nesse quadro a curto prazo, o mercado reduziu pela nona vez consecutiva a estimativa de alta do Produto Interno Bruto (PIB) este ano. De acordo com o Boletim Focus, também divulgado ontem pelo Banco Central, os principais analistas acreditam em avanço de 2,31%, contra 2,34% na semana anterior. É a menor previsão do ano.
Das 28 medições feitas pela autoridade monetária em 2013, o mercado só aumentou a expectativa de crescimento do país em três delas. Confiante na continuidade do avanço baseado no consumo, o governo se encontra agora numa situação delicada, na avaliação de especialistas. No primeiro trimestre, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o consumo das famílias, responsável por turbinar a economia num passado recente, se manteve praticamente estável – em 0,1%. Para o restante do ano, vislumbram-se resultados não muito diferentes.
Em nota, a Serasa adiantou que o movimento de desaceleração do crédito tende a prevalecer ao longo dos próximos meses por causa do processo de elevação da taxa básica de juros em curso pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, na tentativa de conter a inflação. A Selic – hoje em 8,5% ao ano, após três aumentos – pode chegar a dezembro em 9,25%, prevê o mercado. A estimativa foi a mesma captada pelo BC na última medição.
Os juros mais altos, lembra Fábio Bentes, economista da Confederação Nacional do Comércio (CNC), encarecem o crédito e, como consequência, ajudam a arrefecer o consumo. “O cenário é mesmo muito difícil”, diz ele, antes de elencar outras travas, como a recente alta do dólar, o fim de benefícios fiscais concedidos a alguns setores e, sobretudo, a alta de preços. Para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), usado indicador oficial, houve ligeiro recuo pela segunda vez, chegando a 5,80%, segundo o Focus. De todo modo, acredita Bente, uma provável desaceleração da carestia não conseguirá desinibir o consumo neste segundo semestre. “A alta do dólar ainda não foi repassada aos produtos importados ou com itens de fora”, detalha o economista.
Veículo: Estado de Minas