O saldo de crédito da indústria e do comércio cresceu num ritmo menor que outros setores da economia, como serviços, imobiliário e agropecuário, em maio deste ano. Dados do Banco Central (BC) mostram que o crédito no setor industrial cresceu 10,5% nos últimos 12 meses e apenas 3% no ano. O comércio, por sua vez, cresceu 8,1% nos últimos 12 meses e 0,7% no acumulado do ano.
Como base de comparação, o setor de serviço cresceu 19,7% na comparação com maio do ano passado e 6,4% frente a janeiro deste ano. O saldo total do crédito no sistema financeiro nacional teve aumento de 16,1% na comparação com maio passado e 5% com relação ao início deste ano.
Para especialistas de mercado, o crescimento desses setores abaixo da média dos demais é explicado em primeiro lugar pelo alto nível de comprometimento das famílias brasileiras com dívidas conjugado com uma estabilidade da inadimplência em níveis considerados altos. Esses dois fatores têm freado o consumo e o acesso ao crédito por parte dos consumidores que não têm condição de contrair mais dívidas.
"No ano passado, o governo promoveu queda nos juros e um aumento no crédito para impulsionar o crescimento por meio do consumo. As famílias estão cada vez mais endividadas, e por isso demandam menos crédito do sistema financeiro", afirmou o professor Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), Otto Nogami.
Ainda de acordo com Otto, a tendência de menor crescimento do saldo de crédito na indústria e no comércio deve se manter ao longo dos próximos meses, pois o efeito do incentivo ao consumo dura por alguns meses, mesmo após a retirada dos estímulos. As famílias que contrataram crédito no passado ainda estão pagando as parcelas dos produtos que compraram meses antes.
"A indústria e o comércio vão sentir os efeitos dessa política de incentivo ao consumo pelo menos até o final deste ano. Durante esse período, o comprometimento das famílias com dívidas deve permanecer alto e consequentemente a inadimplência também", afirmou Otto.
Outra explicação apontada para o baixo crescimento do saldo de crédito desses setores da economia é que eles seguem o desempenho no Produto Interno Bruto (PIB). No primeiro trimestre do ano, o PIB cresceu 0,6% na comparação com os três meses anteriores. Indústria e comércio cresceram, respectivamente, 0,3% e 0,5%, apenas.
"O baixo crescimento e a conjuntura econômica desfavorável tem relação direta com o crédito, pois todos ficam mais cautelosos quando pensam em assumir novas dívidas", afirmou o professor e presidente da Cobrart Gestão de Ativos, Luiz Felizardo Barroso.
A recente onda de alta na taxa básica de juros (Selic) ainda não tem impacto sobre a menor contratação de crédito nesses setores. Para analistas, demora entre 4 e 6 meses para que esse aumento seja sentido tanto pelos consumidor e pelas empresas.
Além disso, o repasse desse aumento para o consumidor final guarda relação mais próxima com os níveis de falta de pagamento do que com as decisões do BC, tanto no caso das indústrias quanto no caso do comércio.
"O aumento de juros ainda não foi sentido pelo consumidor, pois os credores ainda não repassaram esse aumento para eles. Além disso, os bancos só vão começar a repassar esse aumento com aumento expressivo na inadimplência. O que vemos é maior seletividade, por lado das instituições, e maior comprometimento com dívidas nas famílias."
Veículo: DCI