A devolução da escalada dos produtos in natura vai levar o grupo alimentação e bebidas ao terreno negativo e garantir em julho a menor alta para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA-15) desde agosto de 2010, quando o indicador caiu 0,05%, avaliam economistas. Após avanço de 0,38% em junho, a média de 14 consultorias e instituições financeiras ouvidas pelo Valor Data aponta que a prévia da inflação oficial deste mês vai recuar para 0,10%.
As estimativas para o IPCA-15 de julho, a ser divulgado hoje pelo IBGE, variam de 0,03% a 0,15%. Se confirmadas as expectativas, o índice acumulado em 12 meses vai ceder de 6,67% para 6,42% e voltará a ficar dentro, portanto, do intervalo do sistema de metas inflacionárias, que tem tolerância de dois pontos percentuais a mais ou a menos em relação ao centro de 4,5%. Quarta-feira, durante a reunião do Conselhão, a presidente Dilma Rousseff estimou que o IPCA do mês ficará perto de zero.
Com projeção de 0,07% para o IPCA-15 de julho, Fernando Parmagnani, da Rosenberg & Associados, calcula que o grupo alimentação e bebidas vai mostrar queda de 0,28%, ante variação positiva de 0,27% na leitura passada. Esse movimento, estima, vai diminuir em 0,07 ponto percentual o indicador do mês atual e será o principal vetor de desaceleração.
A sazonalidade mais favorável para a produção de hortaliças, verduras e frutas, produtos que ficaram sob forte pressão no início do ano, será a principal influência de baixa para os alimentos no período, afirma Parmagnani, para quem a tendência de perda de fôlego dessa parte da inflação vai atingir seu piso na medição de julho do IPCA-15.
Basiliki Litvac, da MCM Consultores, avalia que a deflação nesse segmento pode se estender até agosto, embora em menor magnitude. A partir do fim de agosto e início de setembro, os alimentos no domicílio devem voltar ao patamar positivo, diz a economista, que prevê alta de 0,07% para o IPCA-15. "Julho será o melhor momento para a inflação de alimentos", diz. Na prévia, Basiliki estima retração de 0,14% para o grupo.
A parte de alimentação fora do domicílio também vai ajudar a inflação em julho, acrescenta Parmagnani, ainda que em intensidade mais modesta. Em seus cálculos, esse componente vai se desacelerar de 0,94% para 0,72% entre a medição anterior e a atual do IPCA-15. "É uma desaceleração muito suave, que pode ter a ver com o efeito das manifestações populares."
Outro fator de alívio ao IPCA-15, segundo os analistas, virá do grupo transportes, que deve mostrar taxa negativa. Além do cancelamento dos reajustes de transporte coletivo, André Muller, da Quest Investimentos, destaca o comportamento mais favorável dos combustíveis, devido ao período da safra da cana de açúcar. Muller projeta recuos de 3% e 0,65%, respectivamente, para o etanol e a gasolina na prévia da inflação de julho.
O item ônibus urbano, que exerceu o maior impacto individual no IPCA fechado de junho, ao subir 2,6%, deve registrar retração de 0,70% na medição atual do IPCA-15 nos cálculos da Quest. No IPCA do mês, Muller prevê que a queda pode chegar a 3%, porque outras capitais que haviam reajustado as passagens no começo do ano também voltaram atrás. No Rio e em São Paulo, as altas foram anunciadas somente em junho.
"Fatores pontuais levaram a essa inflação atípica em julho", afirma o economista da Quest. "No restante do ano, números tão baixos não devem se repetir." Como fator de risco ao cenário inflacionário, ele aponta a depreciação cambial, que o motivou a elevar ligeiramente, de 5,9% para 6%, sua projeção para o avanço do IPCA em 2013. A correção não foi maior devido à reversão dos aumentos de transporte coletivo, explica Muller.
Para Parmagnani, da Rosenberg, o IPCA encerrará o ano com alta de 5,8%. Em sua opinião, o câmbio mais desvalorizado não compromete a perspectiva de descompressão do indicador, tendo em vista reajustes menores de preços administrados e a moderação do consumo. O economista ainda cita a continuidade do ciclo de aperto monetário sinalizada pela última ata do Copom como fator de contenção sobre os preços.
Veículo: Valor Econômico