A BRF assinalou ontem que pode reduzir o montante de investimentos da companhia para este ano de R$ 2 bilhões, conforme meta fixada no início do ano, para cerca de R$ 1,8 bilhão. O valor aventado é 10% menor do que a meta. Durante conferência de apresentação de resultados do último trimestre, a diretoria da empresa manteve-se cautelosa e assegurou que mantém a meta inicial, mas já admite que não deverá cumpri-la.
"Desde o início o guidance [meta] era R$ 2 bilhões com viés de baixa. Esse viés está se comprovando, provavelmente não vamos realizar todo esse valor", admitiu o diretor-presidente da BRF, José Antonio Fay, após questionamento de um investidor.
Ele assinalou que o investimento em bens de capital para produção e distribuição, o Capex, será o mais afetado e ficará abaixo da meta de R$ 1,5 bilhão. "Entre R$ 1 bilhão e R$ 1,3 bilhão é um número mais atualizado", pontua Fay. Já o investimento em matrizes animais deve se manter por volta de R$ 500 milhões, uma vez que os investimentos nessa área somaram R$ 255 milhões no primeiro semestre deste ano.
O empresário Abilio Diniz, que completou ontem 110 dias na presidência do Conselho de Administração da companhia, explicou ainda que a redução do investimento ocorre "por determinação interna".
Segundo Fay, essa redução é resultado de ações e decisões tomadas há mais de um ano. "Em 2012, já víamos um cenário mais complicado globalmente, já tínhamos tomado a decisão de redução de Capex", colocou.
No ano passado, somente os investimentos da BRF em produção e distribuição somaram R$ 2,5 bilhões, valor 25% maior do que o montante do ano anterior. Já neste ano, de janeiro a junho, os investimentos em Capex da BRF totalizaram R$ 524 milhões, muito abaixo da metade da meta de investimento para a área neste ano, de R$ 1,5 bilhão.
Apesar do recuo previsto, o diretor-presidente da companhia assegurou que "não está tomando uma decisão de redução de Capex que comprometa nosso crescimento".
Internacionalização
Dentre os investimentos da BRF feitos no primeiro semestre deste ano está o início da construção de uma planta em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes. A construção foi iniciada há pouco mais de um mês e, segundo o diretor vice-presidente de finanças, Leopoldo Saboya, faz parte de um projeto de internacionalização da empresa. De acordo com dados divulgados na época do anúncio do investimento, a planta do Oriente Médio terá capacidade para processar 80 mil toneladas de carne de frango por ano e seria inaugurada até o fim de 2013. O investimento será feito através da Federal Foods, empresa que já distribui a marca Sadia na região e que teve 49% de suas ações compradas pela BRF neste ano.
Os negócios com o mercado consumidor do Oriente Médio rendem à empresa US$ 2 bilhões por ano e correspondem a 30% de suas vendas para o mercado externo. Apesar disso, o consumo externo é menor do que o interno e representou 44,5% da receita líquida da companhia no primeiro semestre.
O diretor-presidente da BRF, José Antonio Fay, atestou que a empresa entra agora em sua última fase de fusão, de integração da infraestrutura logística das empresas Sadia e Perdigão. "Estamos a 90% a 95% da infraestrutura para construir isso", disse.
Otimismo
Com uma receita líquida de R$ 14,734 bilhões e um lucro líquido de R$ 567 milhões nos seis primeiros meses do ano, alta de 12% e de 255% nas comparações anuais, respectivamente, a diretoria da BRF avaliou a primeira metade de 2013 como positiva e indicou que o segundo semestre deverá apresentar melhores resultados.
Abilio Diniz ressaltou que, considerado o ajuste imposto pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) as vendas da empresa cresceram 14,6% em volume e 32% em faturamento. "Fala-se em desaceleração do mercado brasileiro, do Brasil com dificuldades (...). Mas para nós não há crise. Para nós há confiança fortíssima no nosso país e no nosso mercado interno, inclusive na nossa capacidade de exportação", assegurou Diniz.
Fay também demonstrou confiança. "Iniciamos julho com uma perspectiva melhor do que terminou maio e junho. Ainda temos coisas a acontecer nos próximos meses, mas o segundo semestre tem um componente de potência acima do primeiro."
Veículo: Valor Econômico