Analistas esperam PIB de 1% no 2º tri

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Após a surpresa negativa com o ritmo de atividade observado nos primeiros três meses do ano, economistas avaliam que a indústria reagiu com mais força aos incentivos concedidos pelo governo no segundo trimestre, o que, aliado a um desempenho ainda favorável dos investimentos em capital fixo, sustentou um crescimento mais acentuado da economia no período.

Em média, 15 instituições financeiras e consultorias ouvidas pelo Valor Data projetam que o Produto Interno Bruto (PIB) aumentou 1% na passagem do primeiro para o segundo trimestre, feitos os ajustes sazonais, acima da alta de 0,6% registrada na abertura do ano. Este pode ser o melhor desempenho, até aqui, da economia no governo Dilma Rousseff, mas economistas avaliam que este resultado será olhado no "retrovisor" e projetam estabilidade da atividade entre julho e setembro, diante do abalo na confiança de empresários e consumidores. O intervalo entre as estimativas vai de 0,7% a 1,3%. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulga as Contas Nacionais Trimestrais amanhã.

Pelo lado da demanda, a expectativa é que a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF, medida das contas nacionais do que se investe em máquinas e construção civil) seguiu como destaque no segundo trimestre, com alta de 3,1%, de acordo com a média de oito instituições. Já o consumo das famílias deve ter subido 0,6% entre abril e junho, reação modesta frente ao primeiro trimestre, quando ficou praticamente estagnado.

O setor que deve garantir, na ótica da oferta, um comportamento melhor da atividade no período é a indústria: oito analistas estimam avanço de 2% para o PIB industrial entre abril e junho, o que, se confirmado, vai mais do que compensar a queda de 0,3% registrada no primeiro trimestre.

Aurélio Bicalho, do Itaú Unibanco, afirma que fatores temporários, como a aceleração da produção de máquinas e equipamentos e o fim do ajuste de estoques em alguns setores, explicam a expansão de 1,1% esperada para o PIB no segundo trimestre. Pela ótica da demanda, Bicalho estima que a atividade foi impulsionada pela formação de capital fixo, que deve ter avançado 3,3% em relação ao primeiro trimestre, em linha com as altas de 3,9% e 1,6% observadas na produção de bens de capital e de insumos típicos da construção civil, na mesma comparação, respectivamente.

Segundo o economista, o aumento do crédito direcionado e a recomposição de estoques em alguns segmentos da indústria de máquinas abriram espaço para um desempenho ainda forte do investimento entre abril e junho.

Além do impulso dado pela retomada da formação de capital fixo na primeira metade do ano, a LCA Consultores acrescenta que o PIB da construção civil deve ter avançado 2% no segundo trimestre, o que contribuiu para elevar o crescimento da indústria no período para alta de 2,1%, ante o trimestre imediatamente anterior.

A expectativa de alguma recuperação, ainda que pouco expressiva, do setor extrativo também ajudou a impulsionar a indústria, na avaliação de Luis Otávio de Souza Leal, economista-chefe do Banco ABC Brasil. No primeiro trimestre, este segmento recuou 2,1% em relação ao trimestre imediatamente anterior.

Apesar de projetar avanço de 1,5% para o PIB industrial no segundo trimestre, Fernanda Consorte, do Santander, estima que a indústria vai crescer menos daqui em diante. Fernanda menciona que a produção industrial subiu 1,1% na passagem do primeiro para o segundo trimestre, feito o ajuste sazonal, influenciada principalmente pelo segmento automotivo e, em menor medida, pelos bens de capital. O problema, diz a economista, é que a reação nas fábricas não foi acompanhada pelas vendas, o que gerou acúmulo de estoques acima do desejado e deve moderar o aumento da produção nos próximos meses.

O comércio, diz Fernanda, também não dá sinais de retomada consistente. Segundo ela, o ritmo mais fraco do crédito e do crescimento da renda não permitiram reação expressiva dos serviços e da demanda das famílias no segundo trimestre. O Santander projeta expansão de 0,3% para o componente da oferta no período, ligeira desaceleração frente à alta de 0,5% registrada na abertura do ano. Já o consumo das famílias deve aumentar 0,5% entre abril e junho, após ter ficado praticamente estável de janeiro a março. "As vendas do varejo, que cresciam a um ritmo entre 8% e 9% nos últimos anos, agora estão crescendo por volta de 1% a 2% na comparação com o mesmo mês do ano anterior. É uma mudança de patamar", afirma a economista, que também destaca a forte perda de fôlego dos salários. Na média do segundo trimestre, ela calcula que o rendimento real dos ocupados nas seis principais regiões metropolitanas aumentou 1,3%, perda de fôlego relevante frente à média de 4,5% observada de outubro a dezembro de 2012, também considerando-se a comparação com iguais meses do ano anterior.

Ainda assim, nos cálculos da LCA, a combinação entre investimento forte e alguma recuperação do consumo deve resultar em alta de 1,2% da demanda interna no segundo trimestre, ante ritmo médio de 0,9% observado entre o quarto trimestre de 2012 e os primeiros três meses deste ano, sempre na comparação com o período imediatamente anterior, feitos os ajustes sazonais.

Já o setor externo, que pesou negativamente no começo do ano, deve dar contribuição positiva para o crescimento entre abril e junho. A média das estimativas de oito economistas é de avanço de 4,9% das exportações no período, após queda de 6,4% no trimestre anterior. Já as importações devem arrefecer, deixando avanço de 6,3% entre janeiro e março para aumentar 1,6% no segundo trimestre.

Leal, do ABC, afirma que a contribuição do setor externo deve ser positiva, após ter "tirado" 1,7 ponto percentual da expansão do PIB no primeiro trimestre, por causa da correção de distorções relacionadas ao registro com atraso de importações de petróleo. Por outro lado, o forte crescimento das exportações no segundo trimestre, afirma o Itaú, deve-se em parte à contabilização de uma plataforma de extração de petróleo como venda ao exterior.



Veículo: Valor Econômico


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