Recuo no atacado e na indústria pode ajudar inflação ao consumidor

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A deflação no preço dos alimentos no atacado, registrada em outubro e em novembro pelos índices da Fundação Getulio Vargas (FGV) e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), deve aliviar a alta sazonal dos preços ao consumidor nos dois últimos meses do ano, especialmente no segmento de alimentos e bebidas, e acomodar um possível reajuste do preço da gasolina, de acordo com analistas ouvidos pelo Valor.

Divulgado ontem, o Índice Geral de Preços - Mercado (IGP-M), da FGV, relativo a novembro, desacelerou para 0,29%, após avanço de 0,86% no mês anterior. O resultado foi puxado especialmente pela queda de 0,06% no Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA) Agrícola. No IBGE, o Índice de Preços ao Produtor (IPP) registrou deflação de 0,37% em outubro.

A redução forte nos preços agropecuários, na avaliação de Flávio Serrano, do BES Investimento, teve influência direta no resultado do IPA industrial, que também surpreendeu ao registrar alta de 0,25% em novembro, bem inferior ao aumento de 1,32% de outubro. As principais influências negativas do IPA geral, que responde por 60% do resultado do IGP-M, foram aves (de 3,27% para -6,16%), ovos (-7,08% para -8,86%), café em grão (-8,86% para -9,81%), trigo (0,70% para -9,06%) e farelo de soja (2,33% para -1,18%).

A deflação do Índice de Preços ao Produtor (IPP), do IBGE, foi o primeiro resultado negativo desde fevereiro e veio depois de alta de 0,57% em setembro. A indústria de alimentos e a classificada em outros produtos químicos foram as principais responsáveis pela queda. Juntos, os dois segmentos contribuíram com menos 0,30 ponto percentual para a formação do índice.

"Esses resultados vão aparecer no IPCA [Índice de Preços ao Consumidor Amplo], principalmente no segmento de alimentos e bebidas, mas não na forma de deflação", avalia Fabio Romão, da LCA Consultores. Ele explica que novembro e dezembro são meses de altas sazonais nos preços dos alimentos, que neste ano podem ser aliviadas pelos preços agropecuários mais contidos. Por isso, a consultoria projeta aceleração do IPCA de alimentos e bebidas nos próximos meses em patamares inferiores aos registrados nos períodos correspondentes de 2012. A estimativa é de alta de 0,54% em novembro (0,79% em 2012) e de 0,48% em dezembro (1,03% em 2012).

Serrano, do BES Investimento, aponta o resultado do IPCA-15 de novembro, divulgado no dia 19, como uma prévia dessa tendência, já que apontou aceleração do segmento de alimentos e bebidas em patamar inferior a 1% (0,84%). A retração verificada nos preços agropecuários, diz, abre espaço para um reajuste nos preços de combustível de até 5% sem a necessidade de revisão das estimativas do banco para a aceleração do IPCA de dezembro, que gira atualmente entre 0,6% e 0,7%.

Para os economistas, o câmbio teve uma função importante na contenção dos preços apurados por ambos os índices. De um lado, eles computam a ligeira apreciação recente do real, de outro, sinalizam que os efeitos da escalada do dólar nos meses anteriores já foram absorvidos. Após alcançar R$ 2,45 em agosto, a moeda americana recuou para o patamar de R$ 2,20 no fim de outubro e avançou para cerca de R$ 2,30 neste mês.

"Não há sinal de pressão remanescente de câmbio sobre os preços no atacado. A alta do dólar já foi absorvida, até mesmo nos eletroeletrônicos", afirma Salomão Quadros, da FGV, acrescentando que, diante de notícias positivas vindas dos Estados Unidos quanto a safras, também não há pressões sobre os produtos agropecuários. Para ele, a aceleração do dólar nas últimas semanas ainda é vista como uma oscilação pelos produtores e, por isso, não deve impactar os preços, ao menos por enquanto.

O coordenador dos IGPs disse ainda que a forte desaceleração do índice em novembro abre espaço para uma inflação mais comportada em dezembro. Esta, por sua vez, será ditada pelo reajuste dos combustíveis. Se ele realmente ocorrer, avalia, a inflação em dezembro poderá ultrapassar a alta de 0,68% registrada em dezembro de 2012 e levar o indicador acumulado em 12 meses a um patamar acima dos 5,6% vistos em novembro. Caso contrário, a tendência, segundo ele, seria de leve desaceleração.

Cristiano Santos, técnico da coordenação de indústria do IBGE, afirma que muitos dos setores aferidos pelo IPP negociam contratos em dólar. A queda de aproximadamente 3,5% na cotação da moeda americana em outubro frente ao mês anterior, portanto, conteve os preços do fumo, de outros equipamentos de transporte, outros produtos químicos, metalurgia, alimentos e veículos automotores. O indicador acumula alta de 4,47% no ano e de 5,18% em 12 meses.



Veículo: Valor Econômico


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