O crescimento mais fraco da atividade doméstica, a recuperação da economia mundial e o real depreciado devem aumentar o superávit da balança comercial brasileira em 2014, na avaliação da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).
Entre as 25 instituições financeiras que integram a entidade, a mediana de estimativas para o saldo da balança deste ano subiu de US$ 7,1 bilhões para US$ 9 bilhões. O presidente do Comitê de Acompanhamento Macroeconômico da instituição, Marcelo Carvalho, explicou que o avanço mais fraco esperado para o Produto Interno Bruto Brasileiro (PIB) em 2014, de 2%, deve ajudar a balança comercial por meio da contenção das importações.
O economista afirmou ainda que a perspectiva de maior dinamismo da economia global - com recuperação dos EUA e da zona do euro - tende a ajudar as exportações brasileiras, além de um dólar mais alto, mais favorável às vendas externas este ano do que em 2013. De acordo com a mediana da Anbima, a taxa de câmbio encerrará 2014 em R$ 2,45. Com relação ao câmbio, no entanto, Carvalho destacou que existe um elevado grau de dispersão nas estimativas.
Entre as projeções da Anbima, 37% estão acima de R$ 2,50, e 14% acima de R$ 2,60, o que revela a possibilidade de desvalorizações adicionais do real, com possíveis impactos na inflação e nos prêmios de risco dos ativos financeiros domésticos. "Tudo o mais constante", disse o economista, o câmbio mais depreciado tende a ajudar a indústria, mas mesmo assim a produção deve crescer menos do que a economia geral em 2014 - 1,6%, segundo as estimativas da Anbima - devido a restrições domésticas já conhecidas, como a elevada carga tributária e dificuldades de logística.
A mediana das expectativas para o superávit primário em 2014 foi reduzida de 1,5% para 1,3% do PIB - abaixo de 2013 e em linha com a percepção de que os gastos públicos costumam acelerar em ano de eleições. Perguntado sobre a possibilidade de as agências de classificação de risco reduzirem a nota de crédito soberana do Brasil em razão do quadro fiscal ruim, Carvalho afirmou apenas que essa possibilidade está no radar dos analistas da Anbima. Segundo ele, esse cenário reflete não só o superávit primário mais fraco, mas também o ambiente de baixo crescimento econômico.
Na avaliação do comitê, uma sinalização mais transparente do governo em relação à meta fiscal seria mais importante para a credibilidade do país do que o comprometimento com uma meta de superávit maior, por exemplo. De acordo com Carvalho, as estimativas da Anbima para o superávit primário têm uma dispersão considerável em relação à mediana de 1,3% do PIB para este ano justamente porque o governo ainda não se comprometeu com nenhuma meta fiscal formal. "O anúncio de uma meta formal crível contribui para aliviar as expectativas do mercado. Concordo que este é um dos fatores para o qual as agências de risco estão olhando com cuidado, mais do que o número em si", além de perspectivas para os próximos anos, afirmou.
Veículo: Valor Econômico