Enquanto a taxa básica de juros, a Selic, subiu 3,75 pontos percentuais de abril do ano passado até agora (de 7,25% para 11% ao ano), na ponta do consumidor os juros subiram 8,55 pontos percentuais no mesmo período, segundo levantamento feito pela Associação Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac). Na ponta do lápis, a taxa média de juros para pessoa física saltou de 88,61% para 97,16% ao ano, nos últimos 12 meses.
O aumento maior do que a Selic gerou uma elevação do chamado "spreadbancário" (diferença entre o que os bancos pagam pelos recursos e o que cobram dos clientes), mesmo com queda da inadimplência. Em abril do ano passado, o spread bancário de pessoas físicas estava em 25,4 pontos percentuais. Em fevereiro deste ano, subiu para 28,7 pontos percentuais.
"O spread é composto pelo lucro dos bancos, pela taxa de inadimplência, por custos administrativos, pelos depósitos compulsórios e pelos tributos cobrados pelo governo federal, entre outros custos ", explica o professor de Finanças do Insper, Ricardo Rocha. "Com um ambiente econômico pior, quem empresta vai tentar se defender já que os empréstimos têm prazos mais longos", afirma o professor do Insper.
Miguel Ribeiro de Oliveira, economista responsável pela pesquisa da Anefac, confirma que a piora nas expectativas para a economia estão puxando as taxas:
"Os bancos, o comércio e as operadoras de cartão estão repassando ao consumidor as expectativas piores para a economia nos próximos meses e a Selic se descolou dos juros cobrados do crédito. Quando o BC eleva o juro, o país cresce menos, a inadimplência aumenta, o desemprego tende a aumentar", explica Miguel Ribeiro de Oliveira, economista responsável pela pesquisa da Anefac.
Com o aumento dos juros básicos, aumentou a taxa de captação das instituições financeiras, ou seja, quanto os bancos pagam pelos recursos. Em abril do ano passado, estava em 9% ao ano, passando para 12,5% em fevereiro deste ano, para operações dom pessoas físicas, segundo dados do Banco Central. Foi um crescimento de 3,5 pontos percentuais. No mesmo período, os juros bancários cobrados das pessoas físicas subiram de 34,4% ao ano para 41,5% - alta de 7,1 pontos percentuais.
"Isso mostra que as instituições financeiras não só estão repassando a alta do custo de captação dos recursos, como também estão subindo os juros cobrados de seus clientes", avalia Miguel Ribeiro de Oliveira.
Como a Selic já está muito descolada dos juros ao consumidor, o novo aumento da taxa básica deve ter pouco impacto nas operações de crédito. Uma simulação feita pela Anefac mostra que a taxa de juro mensal na compra de uma geladeira deve subir de 4,46% para 4,48%.
Ao fim de 12 meses, o consumidor deverá pagar agora R$ 1.971,73, uma diferença de apenas R$ 2,26 antes da alta da Selic. Quem usar ficar no vermelho do cheque especial em R$ 1 mil, por 20 dias, pagará juro de R$ 54 frente aos R$ 53,87 de antes da alta da Selic.
Veículo: Diário de Pernambuco