FAO aponta forte alta global dos alimentos

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Alavancado por fortes valorizações nos segmentos de cereais, oleaginosas, açúcar e carnes nos últimos dois meses, o índice de preços globais de alimentos da FAO atingiu em março seu maior patamar desde maio do ano passado e voltou a fortalecer as preocupações com a inflação sobretudo em países que já convivem com alta de custos - entre os quais o Brasil.

Conforme levantamento divulgado ontem, o indicador calculado pelo braço da ONU para agricultura e alimentação chegou a 212,8 pontos, 2,3% mais que em fevereiro - quando a alta sobre janeiro havia sido de 2% - e nível já superior à média de 2013 (209,8 pontos). O resultado registrado é apenas 0,5 ponto percentual inferior à média de 2012 (213,3 pontos), a segunda maior da série histórica da agência, mais baixa apenas que a de 2011 (229,9 pontos).

A FAO lembrou que o salto foi influenciado por condições meteorológicas desfavoráveis em grandes produtores agrícolas como o próprio Brasil e pela tensão geopolítica entre Rússia e Ucrânia, importantes fornecedores globais de cereais como trigo e milho. Mas Abdolreza Abbasian, economista-chefe da FAO, afirmou, em comunicado, que "o índice de preços de alimentos refletiu as tendências de março" e que alguns fatores de pressão começaram a perder força.

De um lado, os reflexos das intempéries sobre as lavouras de grãos em países produtores da América do Sul estão "precificados" e as atenções começam a se voltar para o plantio da próxima safra (2014/15) no Hemisfério Norte - responsável por 90% da produção mundial de cereais e grãos. De outro, arrefeceram os temores em relação a uma eventual interrupção da oferta da Ucrânia no mercado internacional por conta do conflito com os russos.

Mas há perigos depois da curva. Antonio Sartori, da corretora gaúcha Brasoja, nota, por exemplo, que adversidades climáticas nos EUA nos próximos meses poderão gerar fortes valorizações dos grãos e levar as cotações da soja a novas máximas históricas, já que os estoques do produto naquele país estão particularmente baixos. Caso nada de excepcional apareça nos radares meteorológicos, a tendência, segundo a maioria dos analistas, é mesmo de queda de boa parte das commodities agrícolas no segundo semestre.

Em relatório divulgado ontem, o JP Morgan Chase avaliou como "forte" a tendência de ocorrência de um fenômeno El Niño de moderado a forte este ano, com consequências ainda difíceis de mensurar sobre a produção agrícola e pecuária. De qualquer forma, o banco lembrou que as temperaturas da superfície do Oceano Pacífico subiram mais do que o normal nos últimos meses e sinalizou que os produtores precisam ficar atentos.

Como mostra o comportamento dos preços globais das carnes em março - o indicador da FAO específico para o segmento subiu 1,5% em março -, surpresas sempre acontecem. Pesou para a alta do índice em março, conforme a agência da ONU, a disseminação do vírus da diarreia epidêmica suína (PED, na sigla em inglês) nos EUA, que deve afetar as exportações do país.

Para Fabio Silveira, economista da GO Associados, consultoria com sede em São Paulo, ainda é prematuro afirmar que as novas variáveis ou as incertezas que perduram comprometerão a tendência de queda das commodities agrícolas - e da inflação dos alimentos - no segundo semestre nos mercados internacional ou doméstico. Especificamente no Brasil, diz, antes disso ainda poderá haver um pouco mais de pressão "altista", até porque entre as valorizações no campo e seu reflexo nos índices inflacionários há um longo período que chega a durar três meses.

"No Brasil, parte da pressão altista de janeiro [pico da estiagem no Centro-Sul brasileiro] ainda terá reflexos neste mês, ainda que produtos de ciclo curto de produção, como o tomate, já tenham começado a recuar", afirma Silveira.

Mas tanto Silveira quanto Sartori observam que, diante da forte presença de grandes fundos nos mercados de commodities, sobretudo nas bolsas americanas que referenciam o comércio global de grãos, os chamados fundamentos "de oferta e demanda" não são os únicos fatores que influenciam a direção das cotações. A crise envolvendo Rússia e Ucrânia, por exemplo, deslocou investimentos do país para nações emergentes e também para mercados agrícolas.



Veículo: Valor Econômico


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