No trimestre, comércio cai mais que indústria pela primeira vez

Leia em 2min

Por Denise Neumann | São Paulo


O fraquíssimo resultado registrado pelo varejo em junho - muito abaixo das expectativas dos economistas - consolida o pior trimestre do setor desde o auge do impacto da crise financeira internacional sobre a economia brasileira, no fim de 2008. Sem considerar aquele episódio atípico (quando o crédito secou e toda confiança se esvaiu), nunca as vendas em volume do varejo ampliado caíram tão fortemente.

No segundo trimestre a queda no segmento ampliado (inclui automóveis) foi de 3,06% sobre o primeiro trimestre, feito o ajuste sazonal. É esse resultado que vai afetar o PIB do período, juntamente com a queda de 1,95% da produção industrial.

Entre 2008 e este começo de 2014, varejo e indústria caíram juntos no terceiro trimestre de 2012, quando o PIB do período ficou estável em 0,02%. As quedas naquele momento foram menos intensas: 1,3% no varejo e 1,7% na indústria. Juntos, esses dois setores representam pouco menos de um terço do PIB, mas são um bom termômetro da economia.

As quedas da indústria e do varejo, combinadas com os demais indicadores (a receita de serviços está estagnada), reforçam fortemente os sinais de que o PIB do segundo trimestre caiu em relação aos primeiros três meses do ano.

Além de reforçar a expectativa de PIB negativo no segundo trimestre, o dado do varejo embute outro sinal preocupante. A queda de 3,06% no segundo trimestre veio na sequência de um recuo de 0,4% no início do ano sobre os últimos três meses de 2013. Queda dupla, por dois trimestres, nunca aconteceu na série atual da pesquisa mensal do comércio do IBGE, que começa em 2003. No quarto trimestre de 2008, a queda foi muito mais abrupta (7,3%), mas a recuperação já veio no primeiro trimestre de 2009, com alta de 6,7%.

Cruzando comércio com indústria de transformação (mais próxima dos bens vendidos no varejo), essa foi também a primeira vez em que o varejo caiu mais que a produção. Isso mostra que a queda na indústria, dessa vez, está sendo determinada por uma perda de fôlego do consumo, independentemente dos importados. Por isso, sinaliza uma crise mais profunda.

O dado do varejo ampliado reflete o enfraquecimento dos principais vetores da demanda: renda e crédito. Ambos estão em desaceleração e não devem se recuperar tão cedo, o que complica a economia além do segundo trimestre.



Veículo: Valor Econômico


Veja também

Aumentam cortes de taxa de importação por falta de produto

Por Denise Neumann | De São PauloEntre janeiro e julho, a Câmara de Comércio Exterior (Camex) reduzi...

Veja mais
Retração da economia já é percebida no nível de emprego do comércio

Setor fechou primeiros seis meses com déficit de 5.972 vagas em MinasOs efeitos da desaceleração da...

Veja mais
Banqueiros e empresários lamentam morte de candidato

Banqueiros e empresários manifestaram pesar, ontem, pela morte de Eduardo Campos, candidato à Presidê...

Veja mais
Governo aposta em leve recuperação da produção industrial de 0,5% em julho

Por Edna Simão | De BrasíliaA equipe econômica do governo já vê sinais de uma ligeira r...

Veja mais
Cheques devolvidos registram alta de 2,15% em julho

  Veículo: Brasil Econômico...

Veja mais
Brasil reduz comércio com UE e EUA

Superávit de US$ 3,2 bi com os países europeus caiu para um déficit de US$ 2,6 bi; com os EUA, d&ea...

Veja mais
Alimento in natura gera deflação para baixa renda

Por Alessandra Saraiva | Do RioAlimentos in natura mais baratos levaram à deflação de 0,04% em julh...

Veja mais
Governo planeja reajustar gasolina depois da eleição

Aumento, entre 5% e 6%, será possível se inflação continuar dentro da metaDefasagem no pre&c...

Veja mais
Rio e mais 40 cidades serão afetadas por ‘guerra da água’, calcula agência

Danilo Fariello / Ramona OrdoñezBRASÍLIA e RIO — A decisão da Companhia Enérgica de S&...

Veja mais