Inflação é maior em cidades-pólo do interior de Minas

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Índices de preços medidos em Montes Claros e Viçosa superam inflação oficial apurada na Grande BH. Em Uberlândia, alta dos preços dos últimos 12 meses já é a maior desde 2008.

A escalada generalizada de preços nos últimos meses, que nas principais regiões metropolitanas é apurada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), pesa ainda mais forte nos gastos das famílias em municípios do interior. Em cidades-pólo de Minas Gerais, índices inflacionários medidos por institutos locais de pesquisa, em geral vinculados a universidades, mostram que o custo de vida sofreu aumento de até dois dígitos, portanto acima, inclusive, do percentual medido na Grande Belo Horizonte. Subiu 10,19% em Montes Claros, no Norte de Minas, o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) pesquisado pela Unimontes no acumulado dos últimos 12 meses até setembro, como reflexo do impacto da estiagem sobre os produtos vendidos na região.

Em igual período, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), do IBGE, oscilou 8,84% na Região Metropolitana de BH. Em Viçosa, o aumento de 9,34% da inflação também superou o registrado na capital e entorno. Pela medição em Montes Claros, os grupos de itens com maior influência no resultado do período foram alimentação (18,53%) e habitação (13,9%). No caso do primeiro grupo, a elevação dos preços de itens básicos vêm pesando na inflação nos últimos meses. A alta dos preços dos mantimentos, hortigranjeiros, carne e outros produtos agrícolas é influenciada pela estiagem prolongada que castiga várias regiões do estado.

Entre os destaques das fortes remarcações no período, estão as carnes bovinas, com reajuste de 37,54% e os hortifrutigranjeiros, remarcados em 28,14%, na média. A economista e coordenadora do Índice de Preços ao Consumidor (IPC) da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), Vânia Vilas Boas, ressalta que, nos últimos 12 meses, a escalada nos preços do feijão, arroz, carne, óleo de soja e outros produtos da cesta básica dificulta a vida das famílias de renda entre um e seis salários mínimos mensais, que têm 35% do orçamento consumido pelas despesas com alimentos.

A dona de casa Maria de Fátima Gomes, de 59 anos, mãe de três filhos, reclama da comida e da conta de luz mais caras. “O salário que recebemos não acompanha a alta dos preços do arroz e do feijão”, diz a dona de casa, que também critica a elevação dos preços dos medicamentos. A professora Ivone Martins, de 53, protesta contra o aumento do custo de vida, citando as remarcações dos alimentos e da energia elétrica.

“O descaso dos governantes está acarretando em uma crise jamais vista no país. Tudo está caro. Aliás, hoje, viver no Brasil é muito caro. As pessoas apenas sobrevivem e não conseguem adquirir nada”, observa Ivone. Para a professora, não exite lógica numa economia em que os salários são muito baixos comparados aos preços dos produtos e aos impostos pagos pela população. “Rezo para que o país possa mudar, para que meus filhos e meus alunos tenham uma vida melhor”, completa.

Na Grande BH, o INPC dos últimos 12 meses até setembro foi puxado, principalmente, pelos grupos de alimentação (8,21%) e habitação (15,94%). No primeiro segmento, a alta reflete o aumento de preços dos tubérculos, raízes e legumes (40,85%) e das carnes (14,02%). Outros componentes que contribuíram para a variação são transporte público (12,88%), combustível (13,17%) e botijão de gás (16,24%).

Na comparação entre os indicadores da região metropolitana e do interior, é necessário ressalvar que existe certa diferença na abrangência da pesquisa de preços, embora os índices sejam comparáveis. O INPC/IBGE retrata as despesas das famílias da Grande BH com rendimentos de um a cinco salários mínimos. Em Montes Claros, o IPC mede o custo de vida para famílias que têm renda variando de um a oito salários, enquanto Viçosa apura a evolução dos preços no orçamento de um a seis salários.

Concorrência

Se, por um lado, os produtos de alimentação tiveram forte pressão de preços, um detalhe chama a atenção na composição do índice de Montes Claros. Dois grupos de itens tiveram redução de preços nos últimos 12 meses. São eles: vestuário, que barateou 3,88% e artigos de residência, com redução de preços de 2,8%. A explicação para o fenômeno está associada à necessidade das famílias de concentrar o poder de compra em itens básicos, o que resulta em baixa demanda de outros produtos.

Assim, como mandam as leis da economia, quando a demanda é menor os preços tendem a ceder, muitas vezes impulsionados pelas ofertas do varejo. “As promoções não são feitas mais só ao fim das estações, mas em todos os meses do ano. Em 2015, já víamos em abril ofertas da estação de inverno no comércio de roupas. É uma briga de preços para resgatar o consumidor”, afirma a professora da Unimontes Vânia Vilas Boas.

Energia e transporte em destaque

Em Viçosa, na Zona da Mata mineira, o IPC calculado pela UFV, também registrou alta superior àquela medida pelo IBGE na Grande BH, de 9,34%. Entre os itens com“Isso significa dizer que da variação de 9,34% do IPC-Viçosa, 32,55% se devem ao grupo habitação e 25,16% ao grupo alimentação”, afirma Cirino. Nas despesas das famílias com habitação, as repetidas altas da energia elétrica residencial resultaram em forte aumento de custos. A diferença é que o peso do componente varia de acordo com a metodologia definida para a pesquisa.

Uma ressalva feita pelo economista é quanto ao impacto da inflação no dia a dia da população. O município é bastante dependente da universidade federal e alguns reajustes em itens básicos, como aluguel e transporte público, influenciam de forma considerável no bolso dos moradores. Por outro lado, destaca Cirino, a greve na instituição de ensino contribuiu para desaquecer ainda mais o comércio.

A outra cidade do interior mineiro com pesquisa própria de indicador de preços é Uberlândia, no Triângulo. A inflação local subiu 8,72% em 12 meses encerrados em setembro, próximo à variação registrada na Grande BH. É a maior oscilação pelo menos desde 2008, comparada às inflações anuais dos últimos oio anos.

 

Veículo: Jornal Estado de Minas


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