A ata do Copom, divulgada ontem pelo BC, empurra para 2017 a convergência da inflação para o centro da meta de 4,5%. Segundo economistas, a desaceleração dos preços vai depender de estabilidade do câmbio e do clima.
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) não apontou para uma alteração da taxa básica de juros, hoje em 14,25%, e tampouco indicou uma queda significativa da inflação, que deve acontecer em "horizonte relevante". No sentido contrário, foi ressaltado que há incertezas também "quanto à velocidade do processo de recuperação dos resultados fiscais".
"O Banco Central já vinha indicando que iria jogar a toalha, que não iria apertar mais [as taxas de juros] para buscar a convergência da inflação em 2016, que ficará para 2017", comentou João Ricardo Costa Filho, professor de economia da FAAP.
Para Mauro Rochlin, professor de economia da Fundação Getulio Vargas (FGV), "a batalha para trazer a inflação ao centro da meta está perdida em 2015 e também já está perdida para 2016. Por isso, o Banco Central fala em um 'horizonte relevante', que significa falar em 2017". Na ata, o termo foi usado oito vezes, quase sempre atrelado ao futuro da inflação no País.
Ainda sobre a convergência da inflação para a meta, Rochlin disse que "não pode acontecer outra disparada do dólar e não podem acontecer outros eventos que não estão no radar, relacionados ao clima, como uma quebra de safra ou outra alta exagerada do custo de energia elétrica".
"Problemas climáticos sempre podem impactar. Neste ano vimos, por exemplo, o efeito de seca nos preços", concordou Filho. O professor também falou sobre o câmbio: "o dólar pode ter impacto, sim. Se formos rebaixados de novo, por uma segunda agência de risco, a situação [alta da moeda americana] pode piorar".
Ajuste fiscal
A fase de mudanças na economia foi colocado como "necessária" pelas autoridades do Banco Central. Foi dito também que o período de ajustes "tem se mostrado mais intenso e pode ser mais longo que o antecipado". Em outro ponto da ata, a condução econômica foi mencionada novamente: "indefinições e alterações significativas na trajetória de geração de superavit primários [...] impactam as hipóteses de trabalho contempladas nas projeções de inflação".
É uma maneira de sinalizar o seguinte para o mercado: esperávamos um tipo de ajuste e ele não veio", afirmou Filho. O professor defende que "seria necessário um ajuste fiscal pelo lado dos gastos [públicos], para conter uma possível crise fiscal e para diminuir a pressão sobre os preços". Entretanto, o especialista ponderou que "esse ajuste fiscal precisaria passar pelo congresso, que hoje é hostil ao executivo".
Taxa Selic
Ao avaliar as tendências de inflação, as autoridades do BC afirmaram que o "cenário de referência" leva em conta "a manutenção da taxa Selic em 14,25% ao ano em todo o horizonte relevante".
De acordo com Rochlin, a postergação da convergência da inflação para a meta "flexibiliza a política monetária". Segundo ele, "já que os 4,5% serão atingidos em prazo maior, o BC não precisa ser tão rigoroso em relação à taxa de juros". O professor afirmou também que "não existe, hoje, condição para reduzir a Selic, mas pode haver queda a partir de março do ano que vem".
Em nota divulgada à imprensa, Ilan Goldfajn, economista-chefe do Itaú, fez estimativa diferente: "entendemos que a extensão do horizonte de convergência reforça nosso cenário de que a taxa Selic permanecerá em 14,25% por um tempo prolongado".
Os especialistas de mercado consultados para o relatório Focus acreditam que a inflação deve ficar acima dos 6% em 2016. Eles estimam também que a taxa Selic cairá a 13% até o final do ano que vem.
Veículo: Jornal DCI