Faturamento da indústria cai 4,3%

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O desempenho da indústria de transformação brasileira piorou em janeiro refletindo a queda da demanda mundial provocada pela crise. O levantamento divulgado ontem pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), revela que vários indicadores voltaram aos patamares de 2003. É o caso do faturamento real da indústria, que caiu 13,4%, em relação a janeiro de 2008; e do nível de utilização da capacidade instalada, que reduziu 5,1 pontos percentuais para 78,4%, na mesma comparação.

 

O faturamento da indústria caiu pelo terceiro mês consecutivo e apresentou a primeira queda anual desde 2003, início da série histórica. Na comparação com dezembro, o recuo foi de 4,3%, já dessazonalizado pelo Índice de Preços ao Atacado (IPA) da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

 

Uma das principais dificuldades enfrentadas pela indústria nacional está relacionada ao mercado externo, afetado pela queda da demanda mundial, segundo o gerente- executivo da unidade de política econômica da CNI, Flavio Castelo Branco. O economista afirmou que as dificuldades enfrentadas pelo setor atingem principalmente o mercado de trabalho, que caiu 0,1% sobre janeiro de 2008 e 0,7% em relação ao mês anterior. Essa é a terceira retração seguida no emprego no setor desde novembro, que tem queda acumulada de 2,4%. A crise interrompeu um ciclo positivo de 36 meses consecutivos no emprego industrial em razão do nível de ociosidade e estoques em alta.

 

Segundo a CNI, a queda do faturamento da indústria em relação a janeiro de 2008 atingiu 15 dos 19 setores pesquisados. "Isso mostra um movimento mais disseminado do que o registrado em dezembro, quando a queda atingiu apenas oito setores", disse Castelo Branco.

 

A indústria de metalurgia básica foi um dos setores que mais amargou perdas no faturamento. A queda de 43,4% sobre o mesmo mês do ano passado representou 4,1 pontos percentuais da composição do número total. Outros setores fortemente afetados foram os de produtos químicos (-27,3%) e madeira (-25,3%). Já os setores de vestuário, com alta de 8,8% e matérias elétricos (+36,7%); e outros equipamentos de transporte (+8,6%) subiram beneficiados "pelo carregamento positivo" registrado no ano passado.

 

Segundo Castelo Branco, a indústria de transformação iniciou o ano com o chamado efeito carregamento negativo de 12% e terá que se esforçar muito no decorrer de 2009 para zerar a perda. Diante do atual cenário, será "muito difícil" a atividade industrial apresentar crescimento em 2009. Na semana passada, o IBGE havia anunciado retração de 17,2% na produção industrial, na mesma comparação.

 

Segundo a CNI, as horas trabalhadas caíram 5%, na comparação com janeiro. Em relação a dezembro último, entretanto, houve alta de 1,3%. Os estoques industriais subiram e o índice de utilização da capacidade instalada (UCI) despencou para 78,4% em média, pelo quarto mês consecutivo e voltou aos patamares de novembro de 2003. Houve queda de 5,1 pontos percentuais sobre igual mês do ano anterior (83,3%). Em dezembro, a UCI, já dessazonalizada, havia atingido 79,4%, bem abaixo dos 83% apresentados em setembro.

 

A nota positiva da pesquisa da CNI é a alta da massa salarial real que subiu 2,1% em janeiro, apesar de cair 17,8% sobre dezembro. A queda é "sazonal", já que em dezembro houve o pagamento de décimo terceiro salário.

 

Marcelo Ávila, economista da CNI, afirmou que a redução da utilização da capacidade instalada representa um cenário benigno para inflação. "A indústria para de produzir porque os estoques estão altos e isso é bom para inflação porque tem oferta sobrando em relação à demanda".

 

De acordo com Castelo Branco, "a economia tem mais risco de apresentar resultado negativo do PIB do que risco de inflação". A ociosidade industrial, porém, estimula as empresas a demitirem funcionários para reduzir custos para equilibrar as contas.

 

Castelo Branco defende a redução da taxa de juros em doses mais elevadas para estimular a atividade econômica. No entanto, ele evitou estimar o corte que o Banco Central deve promover na Selic, na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) amanhã.

 

Veículo: Gazeta Mercantil


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