Crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de apenas 1,2% em 2009 e retração de 0,04% na produção industrial. Esse é o cenário apontado pelo boletim Focus - Relatório de Mercado, preparado pelo Banco Central a partir de consultas a cerca de cem agentes de mercado. Trata-se do pior cenário apurado desde o início do ano. Uma semana antes, vigorava entre os agentes de mercado a estimativa de que o PIB cresceria 1,5% e a produção industrial apresentaria taxa positiva de 1,24% em 2009.
Em relação às apostas do início do ano, o mercado cortou pela metade a estimativa de crescimento do PIB de 2,4%, conforme estimado no começo de janeiro. Mais radical ainda foi a reversão de expectativas quanto ao comportamento da produção industrial, para a qual havia estimativa de crescimento de 2,7% no começo de 2009. Houve, portanto, variação de expectativas de 2,74 pontos percentuais, com abandono das apostas de que haveria crescimento da indústria para ingresso no campo das projeções de que ocorrerá retração na produção industrial. Na semana passada, antevendo o cenário de deterioração econômica, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, disseram que a crise mundial estava ingressando em uma segunda fase e que nesta etapa os países emergentes seriam os principais prejudicados.
Inflação em queda
O cenário é restritivo também para altas de preços, indicam os agentes de mercado consultados pelo Banco Central. As projeções quanto às variações de todos os índices de preços caíram. A atual estimativa para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) aponta para variação de 4,57% no ano, praticamente no centro da meta estabelecida pelo governo, que é de 4,5%. Uma semana antes, o mercado sinalizava para alta de 4,66% do IPCA. Quanto ao Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna (IGP-DI), a nova projeção é por variação de 4,16% no ano, frente 4,5% na semana anterior. Para o Índice Geral de Preços - Mercado (IGP-M), há expectativa de alta de 3,79% em 2009, contra estimativa anterior de 3,99%. Em relação ao Índice de Preços ao Consumidor da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (IPC-Fipe), a nova estimativa indica variação de 4,36%, frente aposta anterior de que a alta seria de 4,5%. Também foi revisada a expectativa de elevação dos preços administrados, para 4,7% no ano, frente projeção de alta de 4,85% indicada na semana anterior.
Em relação à semana passada, os agentes de mercado mantiveram expectativas quanto à taxa de câmbio ao final de período, em R$ 2,30 por dólar; déficit de US$ 24,85 bilhões em conta corrente; superávit comercial de US$ 13 bilhões; fluxo de Investimento Estrangeiro Direto (IED) de US$ 23 bilhões e relação de 36% entre o total da Dívida Líquida do Setor Público (DLSP) e o PIB.
Houve uma leve redução da estimativa quanto à média do período da taxa básica de juros, de 10,97% ao ano, na projeção da semana passada, para 10,81%, no boletim divulgado ontem pelo BC. Ou seja, o mercado acredita que o Banco Central vai ser rápido na redução do juro básico da economia, mas sem baixar além do patamar de 10,25% ao ano.
Quanto às projeções para 2010, houve deterioração da estimativa de saldo da conta corrente. Na semana anterior, o mercado apostava em superávit comercial de US$ 13,35 bilhões no próximo ano, mas agora acredita em saldo positivo mais enxuto, de US$ 13 bilhões. Outro sinalizador negativo foi a elevação de US$ 26,31 bilhões para US$ 26,46 bilhões do valor estimado para o déficit em conta corrente em 2010. Para a Selic, o mercado projeta taxa anual de 10,2% no final do próximo ano, contra estimativa anterior de que o juro básico seria de 10,31% no final de 2010.
Veículo: Gazeta Mercantil