País passa a ter mesma classificação de Bolívia e Guatemala. Agência citou recessão maior que a esperada.
A agência de classificação de risco Fitch voltou a rebaixar ontem a nota de crédito soberano do Brasil, de “BB+” para “BB”. A decisão aprofundou a colocação do país na categoria de grau especulativo, caracterizada pela ausência do selo de bom pagador. Agora, a Fitch entende que a situação de crédito do governo brasileiro é semelhante às de Croácia, Bolívia, Paraguai e Guatemala.
Com o movimento da Fitch, o Brasil está agora dois degraus distante do chamado grau de investimento pelas três maiores agências de risco do mundo. A nota de crédito do país é usada como referência para grandes investidores internacionais na hora de fazer suas aplicações.
“O rebaixamento do Brasil reflete contração maior que a esperada da economia, dificuldade do governo para estabilizar a perspectiva para as contas públicas, contínua paralisia legislativa e elevada incerteza política”, justificou a agência em nota. “Esses fatores reduzem a confiança doméstica e prejudicam a governabilidade, assim como a efetividade das políticas públicas”.
Perspectiva continua negativa
Embora acredite que “qualquer transição política para um novo governo durante o processo de impeachment será suave e pacífica” e “poderá representar uma nova oportunidade para um ajuste econômico e para reformas”, a Fitch alertou para os riscos desse processo.
“A profunda e prolongada recessão, acompanhada de desemprego crescente e da incerteza sobre a força e a estabilidade da coalizão no poder ( especialmente para aprovar reformas), demonstra os desafios que um potencial governo Temer pode confrontar. Além disso, a continuidade das investigações da Lava- Jato pode também levar a reveses políticos imprevisíveis”, acrescentou a agência.
A agência de risco demonstrou preocupação com o nível de endividamento público. Ela prevê que a dívida bruta do governo geral atingirá o equivalente a quase 80% do PIB em 2017, “fazendo do Brasil um dos países mais endividados na categoria BB”. Em março deste ano, essa relação atingiu 67,3%.
— Desde a última avaliação da Fitch, nós pioramos bastante no cenário fiscal. A discussão sobre a política econômica passa pela solução desse problema, que é uma bomba- relógio — afirmou Maurício Pedrosa, sócio da Pedrosa Consultoria. — Mesmo que Temer venha a assumir a Presidência, o governo terá grande dificuldade para convencer o Congresso a aprovar medidas que não serão bem vistas pela população. O Congresso parece não estar preparado para fazer uma reforma na Previdência e desvincular as despesas orçamentárias.
Paulo Gomes, economista- chefe da Azimut, acredita que o rebaixamento pela Ficth não terá efeitos sobre o mercado porque, segundo ele, trata- se apenas de um alinhamento com as notas das outras agências de risco:
— Na minha opinião, o momento foi até inoportuno, já que estamos muito provavelmente prestes a promover uma mudança de governo. Mas também não dá para condenar a decisão porque houve, de fato, deterioração fiscal. A esperança é que isso sirva de estímulo para que o Congresso se una pela aprovação de medidas fiscais, como a idade mínima para aposentadoria.
A perspectiva para o Brasil permanece negativa, ou seja, pode haver novos rebaixamentos. Estes resultariam, segundo a Fitch, da ausência de políticas que controlem o ritmo de crescimento do endividamento público, da dificuldade de implementar políticas que estimulem o crescimento e da diminuição das reservas internacionais no país.
Esse foi o terceiro downgrade da Fitch ao Brasil desde outubro de 2015. A perda do grau de investimento ocorreu em dezembro. Notas na categoria “BB” indicam vulnerabilidade elevada ao risco de crédito, particularmente no caso de mudanças adversas na situação econômica.
O Ministério da Fazenda não comentou a decisão da Fitch. Na Petrobras, segundo executivo próximo à estatal, a companhia não acredita que a medida dificultará seu plano de venda de ativos — apesar de rebaixamentos da dívida soberana costumarem levar a downgrade de empresas controladas pelo governo. Segundo a fonte, a direção da Petrobras está tranquila porque tem afirmado que não precisará captar recursos para cumprir seu programa de investimentos este ano, de US$ 20 bilhões.
Veículo: Jornal O Globo - RJ