A nova desaceleração do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que caiu para 9,28% no mês passado, fortalece a possibilidade de a taxa básica de juros (Selic) ser reduzida nas próximas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central.
"No começo do ano, era esperado que a Selic fosse reduzida no ano que vem, por causa da inflação alta. Agora, com a situação econômica e a queda dos preços, os cortes parecem cada vez mais próximos", disse o economista Roberto Luis Troster. Segundo ele, a primeira diminuição da taxa, de 0,25 ponto percentual (p.p.) deve acontecer no mês que vem.
Já Virene Matesco, professora de economia da Fundação Getulio Vargas (FGV), destacou que o recuo dos preços é uma boa notícia, "independentemente do governo que esteja no poder". A especialista concordou que o "alívio na condução da política monetária" deve favorecer a redução da taxa de juros "já nas próximas reuniões".
Os cortes na Selic, segue a professora, reduziriam o avanço da dívida pública, dando mais espaço para os investimentos públicos.
"Vai ajudar na macroeconomia, seja com a Dilma, seja com o Temer".
Caso o atual vice-presidente assuma a liderança do País, a redução da taxa de juros ficaria para julho ou agosto, estimou Miguel de Oliveira, diretor da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac).
"Apesar do recuo, a inflação continua muito acima do teto da meta, não acredito que a nova equipe baixaria a Selic logo na primeira reunião. Eles devem esperar uma maior estabilidade para fazer os cortes", afirmou Oliveira.
O analista lembrou, ainda, que a ata referente ao último encontro do Copom, divulgada ontem, não apontou para um corte da Selic na próxima reunião. "Acho que a decisão ficaria para o segundo semestre [caso a equipe do Banco Central não seja alterada]."
Inflação
No mês passado, o IPCA mensal ficou em 0,61%, acima do índice de março (0,43%). Entretanto, o acumulado em 12 meses diminuiu 0,11 p.p. na comparação com o resultado do terceiro mês do ano.
O recuo nesta comparação se deve, em grande parte, ao arrefecimento da demanda no País. "Vemos essa tendência principalmente nos preços de serviços, como alimentação fora, aluguel, condomínio e passagem aérea", explicou Irene Machado, gerente do IPCA no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Matesco ressaltou que, além da demanda, a queda da inflação também foi causada pelo esfriamento dos preços relacionados a custos, "que já foram repassados em 2015", e expectativas, "por causa da intensidade da recessão".
A professora disse também que um eventual governo Temer poderia acentuar o enfraquecimento da inflação. "Isso pode acontecer mais rápido se ele conseguir avançar mais com ajuste fiscal." Matesco estimou que o IPCA em 12 meses deve encerrar este ano "entre 7% e 8%" e chegar ao teto da meta do governo em 2017.
Outro motivo para o freio no avanço dos preços é o câmbio, completou Oliveira. Segundo o analista, a maior estabilidade do real em patamar mais elevado impede resultados mais altos do IPCA.
No mês passado, os preços foram puxados pelo encarecimento dos itens alimentos e bebidas e saúde e cuidados pessoais. Enquanto o primeiro avançou 1,09%, o segundo teve alta de 2,33% em abril.
"Teve forte impacto para esse item [saúde e cuidados pessoais] o aumento de 12,50% dos remédios, que foi responsável por 0,20 p.p. no índice do mês", explicou Machado. Já o encarecimento dos alimentos teve como principais causas as altas nos preços da batata inglesa (13,13%), do açaí (9,22%), da manteiga (6,42%) e da farinha de mandioca (4,65%).
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), que estuda a variação dos preços para famílias que recebam até cinco salários mínimos, recuou de 9,91%, em março, para 9,83%, em abril.
Preços por região
Sobre os índices regionais, o maior avanço do IPCA foi registrado na região metropolitana de Fortaleza (1,02%). A alta foi causada pelas taxas de água e esgoto (2,49%), que tiveram reajustes durante o mês.
Na sequência, aparecem Porto Alegre (0,94%), Belém (0,90%), Curitiba (0,75%) e Belo Horizonte (0,71%).
O menor índice foi visto em São Paulo (0,36%), em razão, principalmente, do resultado de 0,77% dos alimentos, abaixo da média nacional (+1,09%), além da queda de 6,78% nos preços do litro do etanol.
Também tiveram índices abaixo da média nacional as regiões de Brasília (0,43%), Goiânia (0,53%), Rio de Janeiro (0,62%) e Vitória (0,62%).
Veículo: Jornal DCI