A perspectiva de mudança na Presidência da República está levando a uma leve melhora nas projeções para a economia. Parte dos bancos e consultorias já começou a revisar os números de 2017 e apostando num crescimento mais forte do Produto Interno Bruto (PIB). Se as expectativas se confirmarem ao longo dos próximos meses, o Brasil poderá enfim superar dois anos seguidos de recessão.
Ontem, relatórios divulgados por bancos e consultorias deram o tom dessa possível melhora. O Itaú elevou a previsão do PIB de 2017 de 0,3% para 1,0%. Para compor o quadro mais otimista, o banco apontou um esforço maior para a realização do ajuste fiscal e também a redução dos estoques na indústria. Já o BNP elevou a estimativa para o desempenho da economia de estabilidade para uma alta de 2,0%.
“A combinação de uma política fiscal e monetária mais saudável pode impulsionar o sentimento do mercado e estimular a confiança local, abrindo o caminho para uma recuperação do crescimento”, informou o relatório do BNP assinado pelo economista-chefe do banco, Marcelo Carvalho.
Os números mais positivos para o ano que vem ainda não indicam, porém, que a economia chegou ao fundo do poço. Segundo bancos e consultorias, o PIB dos próximos trimestres ainda deve recuar. Para 2016, a previsão é que a economia brasileira recue perto de 4,0% – será um resultado bastante parecido com o do ano passado, quando a economia brasileira caiu 3,8%.
Governo. A melhora das projeções para 2017 tem como pano de fundo a grande probabilidade de o vice-presidente, Michel Temer (PMDB), assumir a Presidência da República caso o processo de impeachment avance no Senado na semana que vem e a presidente Dilma Rousseff seja afastada do cargo.
Na leitura do mercado, a equipe econômica apontada para um eventual governo Temer teria mais capacidade e apoio político para endereçar alguns pontos considerados importantes para o ajuste fiscal, como a reforma da Previdência, o que poderia ajudar na recuperação da confiança.
A Tendências, por exemplo, trabalha desde março – quando o cenário base da consultoria passou a ser o da saída de Dilma – com um crescimento de 1,2% para o ano que vem. Antes, a projeção era de estabilidade para o PIB. “A mudança de governo pode significar a possibilidade de Temer trazer uma equipe econômica mais forte e com credibilidade, além de conseguir um apoio político maior”, diz Alessandra Ribeiro, economista e sócia da Tendências.
Na avaliação de Alessandra, um eventual governo Temer pode destravar o programa de concessões, o que colaboraria para a retomada do investimento, além de ter a ajuda do setor externo diante da melhora da balança comercial. “O investimento vai estar muito ligado à recuperação de confiança.”
A MB Associados ainda trabalha com expectativa de um crescimento de 0,6%, mas o viés é de alta. “Se a Dilma continuar no governo haverá uma queda do PIB de 2,5% ano que vem. É um ganho de três pontos porcentuais, pelo menos, que teremos em relação ao que seria com o atual governo”, diz Sergio Vale, economista-chefe da MB.
Veículo: Jornal O Estado de S. Paulo