A balança do humor financeiro global pendeu para o lado ligeiramente positivo ontem, mas os mercados brasileiros pouco aproveitaram. A Bolsa de Valores de São Paulo (BM&FBovespa) conseguiu reverter a baixa da manhã e terminou o dia com pequena alta, de 0,11%. O dólar voltou a subir em relação ao real. Avançou 1,09%, fechando a R$ 3,337. Para o presidente da Canepa Asset Management, Alexandre Póvoa, o fator predominante de instabilidade ainda é a decisão do plebiscito britânico, que resultou na saída do país da União Europeia (UE).
“O mercado está procurando um ponto de equilíbrio desde então. Num dia, os operadores acham que o copo está meio cheio, em outro, pensam que está meio vazio”, explicou. Ontem, “o mercado viu o copo meio cheio, mas o Brasil foi um ponto fora da curva”, disse Póvoa. Ele destacou o fato de que o real é a moeda que mais ganhou valor em relação ao dólar nas últimas semanas; portanto, é natural que, em um momento de maior aversão ao risco, a cotação caia mais fortemente. O real liderou ontem a desvalorização das principais moedas globais frente à divisa dos Estados Unidos.
A tendência é agravada pelas intervenções diárias do Banco Central (BC), que tem vendido contratos de swap reverso, nos quais se compromete com a compra de dólares no mercado futuro. “As razões principais para o câmbio são externas, mas o BC está botando gasolina na fogueira”, afirmou Póvoa. Ontem, a autoridade monetária vendeu contratos no valor total de US$ 500 milhões, ração diária que vem se mantendo desde sexta-feira e vai se repetir hoje. “Não é um volume muito significativo. Mas, se continuar assim por muito tempo, será”, alertou o presidente da Canepa.
Na bolsa, a recuperação dos preços de commodities minerais levou à alta, nas horas finais do pregão, das ações de empresas do setor. No caso da Vale, as preferenciais, com prioridade na distribuição de dividendos, subiu 2,25%. Os papéis ordinários da Petrobras tiveram alta de 3,09%.
Incertezas
Um elemento que conteve a alta do dólar ontem foi a ata da última reunião do Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA). Os integrantes do colegiado afirmaram que, antes de elevar juros, é preciso esperar mais dados do mercado de trabalho e o resultado do Brexit — a reunião foi realizada antes do resultado do plebiscito. A interpretação do mercado foi de que, com a saída do Reino Unido da UE, a tendência agora é de adiamento da decisão de alta dos juros.
Para Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do banco Fator, o texto da ata, que destaca as incertezas, aliado ao fato de que houve queda no consumo e nos investimentos no primeiro semestre nos Estados Unidos, aponta para uma política monetária dovish, ou de afrouxamento monetário.
Póvoa destaca que isso emite sinais contraditórios para o mercado brasileiro. “Por um lado, é bom, porque favorece a redução de juros no Brasil, mas também negativo, pois mostra a dificuldade de recuperação da economia global”, disse ele. Amanhã, sai o relatório de emprego nos Estados Unidos. Se os números vierem ruins, aumentarão as apostas de manutenção dos juros baixos, o que reduz a busca por dólares e colabora para reduzir a cotação ou limitar a alta da moeda.
Veículo: Jornal Correio Braziliense